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7 ações para combater a evasão na EJA

              A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil convive historicamente com um alto índice de evasão. Dos 8 milhões de pessoas que frequentaram o curso até 2006, 42,7% não chegaram a terminá-lo, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007. As razões para esse índice ser tão alto vão desde a incompatibilidade entre o horário das aulas e o trabalho até a metodologia, que não respeita as especificidades desse aluno. Na tentativa de diminuir esses números, o governo federal tem ampliado, nos últimos anos, os investimentos no setor, com destaque para a inclusão da EJA no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, o Fundeb, e nos programas de escolha de livros didáticos e repasse de verba para a alimentação escolar. As políticas públicas têm um papel fundamental na garantia desse direito e na melhoria do cenário. No entanto, iniciativas dos gestores também podem contribuir - e muito - para reduzir a evasão. 

          A EMEF Reginaldo de Souza Lima, em Paragominas, a 306 quilômetros de Belém, por exemplo, repensou seu projeto político-pedagógico para manter os adultos na escola depois de constatar, por meio de uma pesquisa feita com os alunos em 2008, que a rotina do trabalho era o principal motivo das faltas. "Os empresários exigem escolaridade dos funcionários, mas nem sempre os ajudam a conquistá-la", afirma o professor de Matemática Carlos Alberto Tourinho, idealizador da pesquisa. Com base nos resultados, a direção adotou uma série de medidas, como flexibilizar o horário de entrada na sala de aula e propor datas alternativas para as provas quando os alunos não podem ir por motivos de trabalho. Além disso, a equipe gestora também entrou em contato com empresários do setor de transporte para que ampliassem a oferta de linhas de ônibus em locais próximos às escolas no período noturno. O resultado positivo das mudanças fez com que elas fossem adotadas por todas as escolas da rede que têm turmas de EJA por determinação da Secretaria Municipal de Educação. 

 Conheça a seguir algumas medidas que ajudam a diminuir as faltas e a evasão de jovens e adultos:

 

  • 1. Uso de variadas linguagens

O que é 

Incorporar atividades relacionadas à arte e à cultura. 

Por que dá resultado
Utilizar linguagens alternativas, como a música, o cordel e o teatro, facilita o aprendizado, principalmente de estudantes mais velhos, que geralmente têm mais proximidade com a cultura popular. 

Onde deu certo 

Em Salvador, no bairro Pariri, um subúrbio ferroviário, a direção do CE Sete de Setembro chamou a atenção dos alunos de EJA com projetos de música, cultura e literatura. Um deles é o Tempo de Artes Literárias, que promove uma competição saudável na escola ao estimular a produção de textos (prosa e poesia) por meio de rodas e saraus literários. Em 2009, o vencedor saiu de uma das turmas de EJA. Também foram realizados festivais para incentivar a produção musical e trabalhos de temática afro-brasileira e indígena. "A culinária desses povos, por exemplo, pode ser explorada nas aulas de Matemática, ao falar das quantidades de ingredientes utilizados em cada prato", explica Diógenes Ribeiro, diretor da escola. Ele credita o sucesso dessas ações ao uso da linguagem oral - em que muitos adultos têm desenvoltura - juntamente com a escrita.

 

O que é 

Elaborar um cronograma de aulas ajustado à disponibilidade dos alunos. 

Por que dá resultado
Organizar os dias e horários das disciplinas segundo as necessidades da turma garante o atendimento contínuo e a reposição de aulas. 

Onde deu certo 

A EEB Madre Benvenuta, em São João do Oeste, a 698 quilômetros de Florianópolis, passou em 2009 por uma reformulação em seu sistema de ensino para as turmas de EJA. A ideia, implantada nas cinco escolas estaduais da região, foi oferecer duas disciplinas por semestre, com aulas presenciais duas vezes por semana - de preferência, entre segunda e quinta-feira. "A gente evita as sextas porque tem muita programação na comunidade e os alunos acabam faltando", explica Roque Neiss, coordenador do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) da cidade. Pesquisas, lições de casa e outras atividades complementam a carga horária de estudo. São, portanto, menos horas presenciais e mais trabalhos a distância. Tudo é corrigido pelo professor, que leva para casa as tarefas e as devolve com comentários. As faltas permitidas se limitam a duas por semestre - desde que avisadas. O aluno pode, depois, combinar um horário com o docente para repor o conteúdo perdido. "Essa organização contribuiu para que muitos adultos que tinham desistido de estudar voltassem para a escola", comemora Neiss.

 

O que é 

Construir um currículo que dê mais significado à aprendizagem. 

Por que dá resultado
Associar temas do cotidiano às disciplinas faz com que os alunos entendam o assunto com mais facilidade. 

Onde deu certo 

A Escola do Batatal, localizada na área rural de Mangaratiba, a 103 quilômetros do Rio de Janeiro, fez uma série de ajustes no currículo depois que indústrias do setor siderúrgico e de energia se instalaram no local. As diretoras Lucilene de Souza e Adriana Lopes da Silva criaram eixos temáticos para tratar os diversos assuntos surgidos com o desenvolvimento da região. Entre eles, a relação entre a urbanização e a vida no campo, a socialização como uma forma de integração da comunidade a seu entorno e o uso da tecnologia no cotidiano. Visitas ao caixa eletrônico e ao shopping center, por exemplo, foram organizadas para familiarizar a turma com as novidades. A iniciativa fazia parte do projeto Relendo o Mundo pelas Lentes da Educação, que mereceu a Medalha Paulo Freire, do Ministério da Educação (MEC), em 2009, na categoria Alfabetização de Jovens e Adultos.

O que é 

Entrar em contato com empresários do setor público e privado para estabelecer parcerias com a finalidade de facilitar o acesso dos alunos à escola e evitar atrasos. 

Por que dá resultado
Melhorar o transporte público nos bairros escolares ou estimular os funcionários a estudar, flexibilizando o horário de trabalho, são bons exemplos de parcerias que podem ser sugeridas aos empresários. 

Onde deu certo 

A oferta precária de transporte no bairro da EMEF Reginaldo de Souza Lima, em Paragominas, fez com que a direção da escola e a Secretaria Municipal de Educação procurassem as empresas de ônibus para melhorar a regularidade das linhas no período noturno. Também foram promovidas reuniões com dirigentes de empresas privadas e públicas, nas quais os alunos trabalhavam para conscientizá-los da importância de incentivar os funcionários a frequentar a sala de aula. Outras medidas adotadas com êxito: flexibilizar o horário de entrada em 15 minutos, alterar as datas das provas quando o estudante não pode ir devido ao trabalho e realizar visitas dos orientadores educacionais à casa daqueles que faltam para convencê-los a voltar.

O que é 

Criar uma infrasestrutura para receber os filhos dos alunos. 

Por que dá resultado
Para os alunos que não têm com quem deixar os filhos, levá-los à escola enquanto estudam pode ser determinante para que não faltem às aulas. 

Onde deu certo 

Quando foi diretora da EM Nossa Senhora das Graças, em Silves, a 300 quilômetros de Manaus, Francisca Artemísia Almeida da Silva tinha três turmas de EJA na escola. Entre 2004 e 2008, ela recebeu o programa Reescrevendo o Futuro, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em parceria com a Secretaria Estadual de Educação. Como o número de mulheres com filhos pequenos matriculadas no programa era alto, ela designou uma funcionária de serviços gerais para cuidar das crianças que iam com os pais para lá - medida sem custo, visto que foi feito um remanejamento de funções. "Reservamos uma sala com brinquedos e demos um lanche para que as mães possam estudar tranquilas. As que têm bebês podem ficar com eles na sala de aula. Faltas mesmo, só em caso de doença", diz Francisca.

O que é 

Oferecer um plano de estudos personalizado segundo as possibilidades de cada aluno. 

Por que dá resultado
Planejar aulas de forma individualizada permite que cada adulto estude de acordo com seu ritmo e com o tempo disponível. 

Onde deu certo 

No CE Duque de Caxias, localizado em Corbélia, a 513 quilômetros de Curitiba, o estudante monta sua grade de horários segundo as disciplinas oferecidas e sua disponibilidade de tempo. É possível, por exemplo, cursar apenas uma matéria em um semestre e passar para três no seguinte. "Eles recebem orientações do professor separadamente, apesar de assistirem às aulas em grupos", explica a diretora da escola Nilcéa Schwambach Medeiros. Assim, um aluno que trabalha na agricultura, como muitos na região, pode faltar até 30 dias em época de colheita sem se prejudicar. "Se fossem reprovados por faltas, eles nem fariam a matrícula", diz Elcio Luis Vitalli, vice-diretor da escola.

 

 O que é 

Oferecer refeição aos alunos e incentivá-los a estudar. 

Por que dá resultado
Os estudantes que vão diretamente do trabalho para a escola não ficam com fome e podem se concentrar mais nas aulas. 

Onde deu certo 

Na EM Diógenes Ribeiro de Mendonça, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, a merenda é servida antes das aulas e inclui refeições reforçadas com carne-seca e abóbora. Bem alimentados, os alunos têm mais disposição para se concentrar nos estudos e não chegam atrasados. Além disso, há o cuidado para que se sintam acolhidos e vejam a instituição como uma parceira - é comum os estudantes desistirem de estudar por problemas de saúde, com a família ou de desemprego. Quem falta por mais de três dias recebe um telefonema da escola. Se, mesmo assim, o aluno continua ausente, o professor e os colegas escrevem uma carta para dizer que estão sentindo a falta dele e pedir que volte logo. E, se preciso, alguém da equipe gestora vai até a casa do faltoso para conversar pessoalmente. "Manter uma relação próxima e amistosa ajuda a evitar a evasão", diz a diretora, Kátia Christina Fernandes.

 Fonte: Nova Escola