Apresentação

O MCP foi o primeiro movimento de cultura popular criado nos anos de 1960. Após sua posse como prefeito do Recife, eleito por uma coligação de partidos de oposição aos governos anteriores, Miguel Arraes reuniu um grupo de intelectuais “progressistas”, comunistas e católicos, propondo uma ação estratégica nas áreas de educação e de cultura. Desse encontro resultou a incorporação da experiência anterior de praças de cultura, promovida por Abelardo da Hora, sob patrocínio da própria prefeitura, em um projeto mais amplo. Assumiu a coordenação desse movimento Germano Coelho, que havia chegado há pouco tempo da Europa, onde conheceu várias experiências, em particular a do movimento Peuple et Culture. Anita Paes Barreto encarregou-se da implantação de escolas primárias para crianças e adolescentes dos bairros não atendidos pela rede municipal, o que foi feito com a colaboração de várias entidades e parceria entre a prefeitura e a população interessada. Definiu-se um projeto de escolas radiofônicas para jovens e adultos e começou-se a trabalhar intensamente em várias áreas da cultura, valorizando o artesanato local, promovendo a realização das festas populares (São João, Reisado etc.), festivais de cinema e apresentação de autos e peças teatrais originais. Foram organizados também clubes de leitura e centros de cultura, além de exposições permanentes de arte e artesanato popular.

O MCP serviu de modelo e exemplo para muitos outros movimentos de cultura e educação popular do início dos anos de 1960. O Livro de leitura para adultos, elaborado por Josina Maria Lopes de Godoy e Norma Porto Carreiro Coelho e impresso em 1962, inovou radicalmente o material didático para alfabetizandos e recém-alfabetizados, tendo sido adaptado por vários outros movimentos, dentre eles De pé no chão também se aprende a ler, Centro de Cultura Popular de Goiás e a Campanha de Alfabetização da UNE.


Apesar do imediato e violento encerramento de suas atividades, após o golpe militar de 1964, conseguiu-se reunir significativa amostra do material produzido pelo MCP e sobre o MCP, além do Livro de leitura para adultos, já citado: Estatutos; Projeto de educação pelo rádio e relatório de instalação de escolas radiofônicas, de Giselda Fonseca; Projeto de meios informais de educação, de Paulo Rosas; Plano de ação para 1963, apresentado ao MEC e no I Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular, realizado no Recife, em 1963; monografia de conclusão no Curso de Serviço Social de Zaira Ary, sobre o Centro de Cultura Dona Olegarinha, onde aconteceu a primeira experiência do Sistema de Alfabetização Paulo Freire, que traz em anexo Projeto de educação de adultos, elaborado pelo mesmo; texto da peça Incelença, de Luiz Marinho; folheto de cordel A voz do alfabetismo, de João José da Silva, que contém o Hino do MCP. De singular importância é o álbum de desenhos Meninos do Recife, de Abelardo da Hora, usado como cartão de visita do movimento.


Foram reunidos também praticamente todos os depoimentos e textos de entrevistas disponíveis sobre o MCP, folders dos muitos eventos realizados, além de fotos e recortes de jornais do período, em especial sobre as escolas para crianças e adolescentes organizadas pelo Movimento.