CTC – Centro de Trabalho e Cultura

O CTC é uma escola de trabalhadores, formada por trabalhadores, que se dedica à profissionalização de jovens e adultos de baixa renda da Região Metropolitana do Recife, desenvolvendo um projeto pedagógico com forte conotação política, com o intuito de formar educandos protagonistas e ativos na sociedade.

Originou-se do Instituto Profissional São José, antigo patronato entregue à Arquidiocese de Recife e Olinda pela congregação mantenedora, em 1964. Sob a direção inicial do MEB – Movimento de Educação de Base de Pernambuco, órgão da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, passou a designar-se CAP - Centro de Aprendizagem Profissional. Com o encerramento das atividades do MEB, a equipe responsável deu continuidade ao trabalho, desvinculando-o da Arquidiocese e estruturando o CTC - Centro de Trabalho e Cultura.

Gradativamente, o CTC foi construindo a sua identidade, privilegiando a formação política e profissional de trabalhadores, por meio de cursos voltados para o setor industrial. A partir de sua atuação e reflexões com outras escolas de trabalhadores, ligadas ao CET - Conselho de Escolas de Trabalhadores, a partir de 1980, desenvolveu proposta metodológica própria e original, denominada “Criação do Saber”, vigente até os dias atuais.

Ainda na década de 1980, ampliou sua clientela para além do adulto trabalhador, passando a atender também a seus filhos. No final da década de 1990, passou a ofertar cursos ao público feminino. Ao longo de sua existência, a oferta educativa foi sendo alterada de modo a responder às mudanças no processo produtivo, com a implementação de novos cursos voltados ao setor industrial e um voltado para o setor de serviços.

Atualmente o CTC mantém cursos de atividades profissionais, oficinas complementares e oficinas culturais durante o dia para 120 jovens e adolescentes, e à noite, para 120 jovens e adultos trabalhadores. Com vistas à geração de renda, foram instituídas três oficinas de trabalho com atividades nas áreas de eletrônica, gráfica e marcenaria, que oferecem serviços ao setor privado, propiciando o aumento de renda e a manutenção de algumas das atividades do Centro. Estas oficinas, apesar de se relacionarem com empresas, exercitam formas solidárias de gestão e participação, procurando superar a lógica capitalista de produção. Além disso, desenvolve unidades de produção associada que não só geram trabalho, como contribuem na sustentação das atividades do Centro.
Outra mudança expressiva se deu no quadro de docentes, que inicialmente era constituído de militantes engajados nos movimentos sociais de diferentes correntes políticas e passou a ser constituído por ex-educandos do próprio CTC, designados monitores.O CTC tem como objetivo fundamental a formação associada à criação de relações de solidariedade, justiça, companheirismo e cidadania, buscando maior criticidade em relação à dominação capitalista do mundo do trabalho. Sua proposta pedagógica está baseada na participação ativa dos educandos, na construção coletiva de conhecimentos e na formação política. A escola é gerida coletivamente de forma horizontal, cujas normas e regras foram sendo construídas e pactuadas entre educadores e educandos. Rompe com o processo pedagógico tradicional, passando a se basear nas incertezas e no aprender a aprender, por meio de tentativas e erros, construindo e adaptando a sua proposta político-pedagógica.

Essa experiência traz características de uma democracia direta, realizando-se em assembleias, em processos de autoavaliação e em participação na gestão pedagógica e administrativa da instituição. A metodologia utilizada visa a formar cidadãos capazes de reconstruir suas práxis, a partir de novos conhecimentos teóricos e práticos, e a gerir suas vidas, como indivíduos e membros da classe trabalhadora. O CTC busca, assim, fomentar a ampliação de participação na luta dos trabalhadores.

É uma das experiências de formação técnica e política de trabalhadores mais bem documentada. Além dos relatórios produzidos no âmbito do CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores, disponíveis no módulo a ele relativo, possui três publicações próprias: CTC: Criando o saber (Recife, Alternativa Gráfica, 1998); Ivandro da Costa Sales (Org.),CTC: 35 anos criando saber (Recife: Comunigraf, 2002); Bia Costa (Org.), Zerbini: oficina associada que rima trabalho com educação (Rio de Janeiro: Capina, [20--]).

Dispõe-se também de duas dissertações: a) Tereza Jacinta Cavalcanti, Escolas de trabalhadores para trabalhadores: as experiências de formação profissional do Centro de Trabalho e Cultura Recife-PE e do Projeto Construindo o Saber em Limeira (Universidade Estadual de Campinas, 2004); b) Monica dos Santos Spinelli, Que escola é esta? É a escola do trabalhador. Estudo sobre o Centro de Trabalho e Cultura, Recife/PE (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, 2010); e uma tese de doutorado Carolina Valéria de Moura Leão: Educação Popular: ausências e emergências dos novos conhecimentos e sujeitos políticos da economia solidária (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, 2014).

 

* Redigido a partir da introdução da dissertação de Mônica dos Santos Spinelii, Que escola é esta? É a escola do trabalhador. Estudo sobre o Centro de Trabalho e Cultura, Recife/PE, p. 13-14.

Artigo

Confira aqui os artigos disponíveis sobre o CTC. 

 

Criação do Saber Osmar Favero

Criação do Saber 

Osmar Fávero

 

Tese e Dissertação

carolinaleao
Educação Popular e Economia SolidáriaCarolina Moura Leão Educação Popular e Economia Solidária: apêndices e anexos
Carolina Moura Leão
Que escola é essa? É a escola do trabalhador - Monica dos Santos Spinelli

Confira aqui a entrevista de Carolina Moura Leão membro do Centro  de Investigação em Sociologia Económica  e das Organizações (SOCIUS - ISEG/UTL) e da Cooperativa Mó de Vida.