CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae*

CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae*

O CEPIS foi criado em 1977, por ocasião da reestruturação do Instituto Sedes Sapientae, instituição das cônegas de Santo Agostinho, atuante em São Paulo desde 1933. O grupo inicial era ligado à Igreja Católica e aos movimentos populares da cidade de São Paulo.

De acordo com Ozani Martiniano de Souza, o primeiro período de atuação do CEPIS, entre 1977 e 1985, coincide com o surgimento dos “novos” movimentos sociais, caracterizado pelas greves dos operários das grandes fábricas e pelos movimentos de bairro. É conhecido o apoio da Igreja Católica a esses movimentos, na abertura proporcionada pela Teologia da Libertação. O CEPIS se definiu, então, como um centro de assessoria militante junto aos grupos populares que buscavam ou necessitavam ampliar seu potencial organizativo para se contrapor à dominação e aos desacertos dos sucessivos governos autoritários, tendo priorizado o atendimento à classe operária, entendida em sentido amplo. E, como os vários outros centros de educação popular criados no mesmo período, valeu-se do apoio financeiro de agências internacionais ligadas às Igrejas Católicas da Europa e do Canadá (Cristhian Aid, Misereor, ICCO – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao Desenvolvimento, Pão para o Mundo).

Sua atuação inicial se deu na formação de lideranças e na educação política, por intermédio das diversas pastorais, especialmente a operária e da juventude, além das Comunidades Eclesiais de Base. Pelo engajamento de alguns participantes da equipe inicial, houve forte atuação em amplo programa de saúde popular, na linha da medicina comunitária. Os relatórios registram muitas solicitações não só na região metropolitana de São Paulo, como em vários estados do país, para a assessoria de movimentos urbanos e rurais. Registram também a participação junto a movimentos latino-americanos, em especial na Nicarágua e no Peru.

A criação do Partido dos Trabalhadores, em 1981, a criação da CUT – Central Única dos Trabalhadores e da ANANPOS – Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais, e as primeiras eleições para o cargo de governador dos estados em 1982, nas quais o PMDB saiu como o grande vencedor, colocou para o CEPIS novas tarefas em três frentes: o movimento popular, instrumentalizando os grupos para as reivindicações frente aos novos governos; o movimento sindical, formando dirigentes; e as pastorais populares, contribuindo para a reflexão sistemática da prática pastoral. Deu origem também a intenso trabalho de alfabetização em vários bairros, em cooperação com a prefeitura de Luiza Erundina e da secretaria de educação de Paulo Freire.

O período 1986/1995 caracterizou-se como de crescimento e consolidação do CEPIS. A conjuntura de redemocratização do país, os debates da campanha das Diretas-Já, o projeto da Nova República e a realização da Constituinte, em 1987-198, provocaram intensa mobilização, exigindo os movimentos populares um avanço na qualidade da atuação, no bojo da crise econômica que gerava acentuada inflação e frente à cooptação operada pelos setores políticos hegemônicos. O CEPIS procurou, no período, desenvolver maior número de atividades de autoformação, elaborar mais subsídios e sistematizar sua própria experiência, por meio de encontros de capacitação interna. Aparece neste contexto o dilema: trabalho de base vs. trabalho de massa, encaminhando reflexões sobre: que tipos de contribuição seriam mais relevantes e convenientes nos próximos anos? Quais movimentos deveriam ter prioridade na programação do Centro?

Embora a conjuntura política tenha colocado os mesmos problemas para os vários centros (ou agências) de educação popular existentes, as importantes discussões sobre o papel da assessoria, a relação dos centros com instâncias mais amplas de formação – por exemplo, como o Instituto Cajamar, criado em 1986 –, e também com os governos democráticos eleitos para as instâncias municipais, foram bastante trabalhadas pelo CEPIS, não sem divergências internas. Em particular, a relação com os organismos latino-americanos alimentaram a perspectiva fundamental da educação popular: seu norte político. Tanto quanto nos anos áureos dos movimentos de cultura e educação popular do início dos anos de 1960, como nos diz Ozani Martiniano de Souza, a educação popular era entendida um processo educativo que, a partir da realidade existente e da reflexão teórica sobre ela, permitisse a análise de tendências e alternativas para a construção de um projeto político-popular transformador.

No entanto, seguindo a periodização proposta por esta autora, o terceiro período por ela estudado, 1986/1998, é de crise, sob a influência do avanço do neoliberalismo, decorrente da frustração provocada pela falência do socialismo no Leste Europeu e pelo fracasso da revolução da Nicarágua, e da própria retração da Igreja. Além disso, houve uma drástica redução do financiamento externo, que dirigiu sua prioridade a outras áreas. Nesse contexto, muitos movimentos sociais, sobretudo urbanos, apresentaram menor dinamismo e foram dando lugar a novas organizações: de negros, de mulheres, ecológicos etc.

Essas mudanças provocaram processos de autoavaliação do CEPIS, em busca de nova política formativa que atendesse aos novos sujeitos sociais emergentes com a abordagem de novos temas: raça, gênero, ecologia, ética, subjetividade etc., que fundamentassem as novas formas de mobilização e organização. Foi definida como fundamental a retomada dos trabalhos de base, unificando as ações no meio urbano e no meio rural e dando origem à criação de um novo projeto, designado Formação Básica Multiplicadora.

Como o CEPIS existe até hoje, a documentação por ele produzida pode ser obtida diretamente na Biblioteca Madre Cristina ou na Secretaria do Centro.

* Esta apresentação está baseada na dissertação de mestrado de Ozani Martiniano de Souza, O Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae; origem, consolidação e crise contemporânea, defendida em 2000, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.