VIII ENEJA - RECIFE
RELATO DE EXPERIÊNCIA
 

 

PROJETO RODA GAÚCHA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EJA

Armgard Lutz (1)

 

OS PARCEIROS:

* PROGRAMA CRER PARA VER - NATURA COSMÉTICOS

* UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul

* CEDEDICAI - Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Ijuí.

* 36ª. Coordenadoria Regional de Educação

 

INTRODUÇÃO

O projeto Roda Gaúcha, de formação de professores da EJA, recebendo apoio técnico e financeiro da Natura Cosméticos, vem proporcionando mensalmente aos professores da EJA de sete (7) municípios da abrangência da 36ª CRE, formação ancorada em dois eixos: a diferença e a cooperação. A área de abrangência comporta os municípios de Ajuricaba, Catuípe, Condor, Chiapeta, Ijuí, Panambi, Jóia (Rondinha), num total de 17 escolas.

A vida desse projeto, para além do que foi proposto, está assentada no compartilhar de idéias, possibilidades e dificuldades entre as escolas, com os assessores da Universidade e palestrantes convidados que prestam a formação continuada e viabilizam condições para oferecer visibilidade aos projetos de EJA das escolas. A equipe da universidade, mais do que cumprir o cronograma, evidencia com suas reflexões e pesquisas o compromisso com a EJA ainda que acredite ser ela um patamar da educação a ser potencializado.

 

METODOLOGIA DO PROJETO

A principal metodologia de formação sustenta-se nas seguintes dinâmicas:

1) Formação temática reunindo os professores em dois núcleos de integração das escolas – no caso, Ijuí e Panambi;

2) Formação pontual através da assessoria direta às escolas da EJA à constituição de seus projetos de inclusão e permanência dos seus alunos, ao acompanhamento dos projetos e constituição de projetos de oficinas de iniciação ao trabalho. Tais oficinas podem culminar em proposta de economia solidária. Para esse fim, são estimuladas movimentações junto à comunidade a fim de que as escolas captem parcerias tanto para colocar no mercado os produtos produzidos como para subsidiar os materiais necessários às oficinas.

A assessoria às escolas é desenvolvida por professores da universidade e basicamente desenvolve a pesquisa da realidade e a ação reflexiva sobre as demandas que se apresentam.

3) Seminários com temáticas emergentes.

4) Seminário Anual reunindo todas as escolas dos 7 municípios

5) Mostra Anual de práticas cooperativas experimentadas pelas escolas;

6) Produção de Boletim Anual integrando as experiências e dando-lhes maior visibilidade.

7) Pesquisa e estudos independentes : constituição de 2 Salas de Estudos para professores de EJA com bibliografia específica e computadores.

A formação continuada iniciou em 2005, manteve um encontro mensal de 20 horas durante cinco meses com vagas para 235 professores da EJA. Colocou na pauta das discussões as temáticas que povoam a mídia e que ilustram as dificuldades e conflitos enfrentados por todos. Com o intuito de fortalecer os debates curriculares e dar condições aos professores da EJA à constituição de jovens e adultos estudantes com visão mais ampla da sociedade e maior pró-atividade diante da realidade, os temas abordados foram os seguintes:

1. Cooperação e práticas pedagógicas cooperativas

2. Escola, classes e processos democráticos:

Os professores como animadores sócio-culturais

3. Práticas cooperativas e desenvolvimento ecológico.

4. Constituição de redes alternativas de cooperação

5. Pesquisa e tecnologia na educação

6. Registros reflexivos e uso da etnografia.

7. Mídia e cultura: a música e as diferenças culturais

8. Letramento e ambiente alfabetizador interdisciplinar: a identidade multicultural do brasileiro; a comunicação pela mídia significando o letramento.

9. Letramento e pesquisa.

10. Diferença, inclusão e intercultura.

Seminário e curso: ECA, juventude e mídia.

 

PAPÉIS DOS PARCEIROS

Cabe salientar que cada parceiro vem promovendo ações integradoras, assim como ampliando as condições de visibilidade dos sujeitos da EJA.

O Programa Crer para Ver, da Natura Cosméticos tem como objetivo contribuir para a melhoria da qualidade do ensino público no país, por meio da ajuda técnica e financeira a projetos educacionais de formação de professores.

Desde 1995, o Programa conta com o apoio das Consultoras e Consultores da Natura que vendem, voluntariamente, os produtos da linha Crer para Ver. Em 2004, o Programa, em parceria com o Ministério da Educação, ampliou sua atuação e lançou a Campanha de Educação de Jovens e Adultos. O Programa mobiliza as Consultoras e Consultores Natura para, voluntariamente, identificar e sensibilizar potenciais alunos a voltarem para a escola. A atuação nesta modalidade de ensino também engloba financiamento a projetos de formação de professores da EJA, sendo que o Roda Gaúcha é um dos projetos beneficiados.

O CEDEDICAI captou junto ao Rotary Club Nova Geração um apoio significativo, como contrapartida, que resultou em fornecimento de 21 quadros verdes para salas de alfabetização, apagadores, material de consumo, cadeiras. A ONG vem organizando a pesquisa para verificar como são recebidos na EJA os jovens em conflito com a lei e como eles vêm aproveitando a oportunidade de reingresso na escola. Além disso, captou materiais extras para subsidiar as oficinas de algumas escolas bem como ambientes como por exemplo sofá, tapete, papel para caixas, etc.

A UNIJUI, coordenando e executando o projeto, oferece como contrapartida o uso das salas para os cursos a baixo custo; cedência, sem ônus, de espaço para uma das Salas de Estudo de EJA com uso da internet banda larga; fornece o carro (sem o combustível) para as visitas de acompanhamento e integrou o projeto ao seu Programa de Pesquisa e Extensão.

A 36ª. CRE oferece como contrapartida 10 horas de trabalho mensal de uma professora. Cabe-lhe estabelecer a mediação entre as escolas e a equipe de coordenação do projeto, incentivando o comparecimento dos professores nos cursos. Ao desenvolver suas visitas às escolas, cabe-lhe colher dados, seja sobre necessidades, dificuldades, críticas à formação, a serem repassados à coordenação do projeto. Ao fazer a ponte entre escolas e projeto Roda Gaúcha, a 36ª. CRE proporciona a reavaliação do que é subsidiado às escolas, indicando possíveis ampliações e ou qualificações.

 

RESULTADOS

Os avanços teóricos proporcionados pela formação vêm refletindo nos planejamentos e postura dos professores de EJA. Vários exemplos de bons resultados foram colhidos durante as assessorias. Verificamos por exemplo, em Condor, o retorno de alunos que haviam se afastado da escola como resultado do uso de uma das metodologias expostas num dos cursos de formação – Letramento e Pesquisa: a construção de histórias de vida com uso da tecnologia integrando propostas de professores de língua portuguesa, informática e estudos sociais.

A participação de 700 alunos de EJA no Seminário e Mostra anual de EJA evidenciou o impacto da iniciativa, culminando com o Boletim anual. Os alunos, como protagonistas da Mostra e das oficinas ( de ikebana, hotelaria, animação de público, locução em rádio, costumização, reciclagem, etc) vêm se abrindo para perspectivas de vida antes não vislumbradas.

Na Escola Estadual de E.F. Centenário, de Ijuí, a Oficina de Reciclagem de fibras e papéis e de Produção de Caixas Organizadoras tem trazido resultados de acordo com as metas traçadas pelo projeto como, por exemplo, gerar trabalho e renda de forma cooperativa. Em decorrência da oficina, desenhou-se o projeto Buscando Caminhos gerando renda e cooperação que integra alunos de EJA tanto no turno da noite quanto no diurno.

 

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA:

PROJETO PILOTO "BUSCANDO CAMINHOS"

ESCOLA ESTADUAL DE E. F. CENTENÁRIO – DE IJUI/RS

 

O projeto de formação de professores de EJA “Roda Gaúcha” previu a constituição de uma oficina piloto numa das 17 escolas estaduais atendidas. A escolha teve por critério a situação de maior vulnerabilidade social de jovens e adultos. Assim sendo, a Escola Estadual de E.F. Centenário, situada no bairro Tancredo Neves, foi selecionada para receber os subsídios a fim de compor a oficina cooperativa de Reciclagem de Fibras e papéis e Produção de produtos artesanais.

No ano de 2005, a fim de incentivar todas as escolas a tomar a iniciativa na criação de oficinas, foram oferecidos dois módulos de formação: “Práticas Cooperativas e desenvolvimento Ecológico” e “Constituição de Redes Alternativas de Cooperação”. A partir dessa formação, a oficina piloto tomou corpo integrando prática e conteúdos interdisciplinares através de projeto elaborado pelo corpo docente de EJA e envolvendo os alunos na leitura da realidade.

Em 2005, a escola trabalhou especialmente com temáticas sobre cuidados com o meio ambiente, separação do lixo, aproveitamento e redução da quantidade de lixo tanto na escola quanto nas residências do bairro. Iniciou-se na escola a prática de recolhimento diário do lixo reaproveitável na oficina de reciclagem. Com isso, foi se instalando a cultura do reconhecimento dos resíduos capazes de produzir interferências nos papéis artesanais produzidos e a cultura da limpeza inteligente.

Em 2006, na segunda fase de consolidação da oficina, a construção coletiva do projeto cultural “Buscando Caminhos” associado à oficina obteve a participação intensificada dos alunos através da mediação de uma professora dada a seriedade da meta de conquistar maior qualidade nos produtos e possibilidades de renda e replicação da experiência em nível individual.

A produção dos papéis artesanais qualificou-se pela variedade e pela ampliação da aplicação. A beleza dos papéis conquistada pela criação de interferências usando resíduos naturais, borra de café, serragens, etc., vem rendendo encomendas de capas de agendas, cadernos decorados, cartões e porta-retratos. O entusiasmo dos alunos com suas produções gerou participação mais intensa de um grupo de alunos de EJA em situação de desemprego, solicitando ampliação do horário na oficina para o diurno. O resultado, desde abril, foi a abertura da oficina para alunos de EJA nas terças e quintas-feiras à tarde, para além das atividades noturnas.

As aprendizagens vêm gerando produção em dois níveis: de forma cooperativa na escola e de forma individual para os que tomaram iniciativas particulares. Para estes últimos verificou-se o início de geração de renda e a convicção de que o ingresso no mercado de trabalho exige capacitação.

O projeto, integrando conhecimentos curriculares de Arte e Matemática, vem desencadeando outras demandas e estas vêm sendo atendidas com a assessoria do Projeto Roda Gaúcha, como por exemplo, a capacitação em montagem de caixas organizadoras de papelão; decoupagem com guardanapos de papel decorado; formação em estética e apresentação de produtos, mercado de trabalho, empreendedorismo e economia solidária.

Considerando que outra meta do projeto Roda Gaúcha é promover o protagonismo dos professores e alunos, está previsto que no Seminário Anual os alunos habilitados pela oficina sejam os agentes multiplicadores das técnicas aos alunos de EJA das demais escolas.

 

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(1) Idealizadora, coordenadora e executora do projeto Roda Gaúcha – Formação de professores da EJA. Professora do Curso de Pedagogia da UNIJUI, doutoranda pela UFRGS e presidente do CEDEDICAI.