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Na série B da educação, artigo de O Globo

O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes testes de ensino, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), obrigou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a reformular a nova edição da prova.

O teste, que no Brasil será aplicado na próxima semana, terá questões mais fáceis. O objetivo é traduzir melhor o desempenho de quem vai mal no teste, separando estudantes que praticamente não sabem nada dos que demonstram um mínimo de conhecimento.

Em 2000, o Brasil amargou o último lugar em leitura, entre 32 nações.

Deixou a lanterna mais tarde, após um grupo adicional de países fazer a mesma prova. No ranking final, o Brasil passou para a 39ª posição entre 43 nações.

Em 2006, o país ficou em 49º lugar entre 56 participantes — à frente da Argentina, mas atrás de Indonésia, Romênia, México, Uruguai e Chile. O Pisa é realizado a cada três anos. Em 2006, a Coreia do Sul tomou a liderança da Finlândia na prova de leitura.

A decisão de incluir questões mais fáceis para todos os países que participam do exame coincide com a ampliação do Pisa. Este ano, a prova avaliará jovens de 72 países — mais do que o dobro dos 32 participantes na estreia, em 2000. O foco será a capacidade de leitura.

— Não é que o teste vá ser mais fácil. Será tão difícil quanto antes. O que queremos é descrever melhor o desempenho dos alunos com menos habilidades — resume o coordenador-geral do Pisa junto à OCDE, Andreas Schleicher.

Pontuação inferior até ao nível mínimo

Ele diz que todos os países têm estudantes com fraco desempenho. Mas o que varia — e muito — é a proporção. No teste de leitura de 2006, 55,5% dos jovens brasileiros ficaram abaixo do nível 2, que é o mínimo recomendado pela OCDE, na escala até 5.

Nada menos do que 27,8% deles foram classificados abaixo do nível 1. Ou seja, tiveram uma pontuação tão baixa que não aparece sequer na tabela de níveis de proficiência em que são indicadas as habilidades dos alunos. Na Argentina, foram 35,8% na mesma situação; na Colômbia, 30,4%; No Uruguai, 25,3%; no Chile, 14,8%. Entre os países da OCDE, esse percentual ficou em 8,9%.

No nível 1, reservado a quem tirou menos de 334,8 pontos na escala até 800, os jovens são capazes de compreender somente textos simples, identificando o tema principal e situando fragmentos de informação. O que dizer, então, de quem ficou abaixo de 1?

— É exatamente o que queremos fazer com essa escala maior de questões: discriminar melhor os estudantes que sabem muito pouco dos que sabem algo — afirma Schleicher.

No Brasil, 56 mil alunos fazem o teste

Único país sul-americano presente em todas as edições do Pisa, o Brasil volta a se submeter ao exame entre 25 e 29 de maio. Cerca de 56 mil alunos brasileiros farão o teste em 587 municípios. Participam jovens de 15 anos, de escolas públicas e particulares, independentemente da série em que estão matriculados.

O Pisa testa a capacidade dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências. O foco de 2009 será leitura. A OCDE reúne 30 países, a maioria de Primeiro Mundo, além de México, Eslováquia e Polônia.

Dos 56 mil alunos brasileiros matriculados em 990 escolas públicas e privadas, cerca de 30 mil constituem a amostra do Pisa propriamente dito, isto é, têm 15 anos e frequentam turmas da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Os demais 26 mil estão todos no 1º ano do ensino médio, independentemente da idade.

O motivo das duas amostras é que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame no Brasil, quer comparar o impacto do atraso escolar. Afinal, 47,5% dos estudantes do 1º ano estão acima da idade prevista. A ideia é comparar as notas dos dois grupos.

A defasagem idade-série é resultado da repetência e da evasão. Ela prejudica o desempenho do país no exame.

— Temos mais de 3 milhões de jovens de 15 a 17 anos ainda no ensino fundamental. O Brasil tem uma dívida social histórica — diz o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes.

O Inep pagará R$ 1,9 milhão para realizar o Pisa. Pelo menos 80% dos estudantes sorteados devem fazer o exame. Em 2006, o Brasil não atingiu o índice, e a OCDE teve de arredondar os dados de participação para cima, o que é previsto. A Holanda já ficou de fora por não alcançar a amostragem mínima. Os resultados serão divulgados no ano que vem.

Resultado muito surpreendente

O coordenador-geral do Pisa na OCDE, Andreas Schleicher, considera surpreendente uma parcela significativa dos estudantes de 15 anos aprender tão pouco, apesar de frequentar a escola por quase uma década ou mais. Segundo ele, a melhoria da qualidade do ensino é o maior desafio dos países, não só do Brasil.

O último exame, em 2006, mostrou que 10,2% dos alunos de países membros da OCDE ficaram abaixo do nível 1 na prova de matemática. No Brasil, esse percentual foi de 46,6%, o pior entre as seis nações sul-americanas que participaram do teste. A Colômbia aparece em segundo nesse ranking ao contrário, com 44,6% dos alunos abaixo do nível 1.

Sob esse aspecto, o desempenho em matemática dos países da OCDE foi pior do que em leitura (8,9% dos jovens abaixo do nível 1) e ciências (6,9%).

— É muito surpreendente que, aos 15 anos, tamanha proporção de estudantes tenha níveis tão baixos de leitura, matemática e ciências. O grande desafio para os sistemas de ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorar — diz Schleicher de Paris, de onde acompanha a aplicação do Pisa em 72 países.

Embora sublinhe que o Brasil precisa superar o abismo da falta de qualidade, o coordenador-geral do Pisa elogia o país:

— Se você compara os últimos cinco ou seis anos do Brasil com os de países da região, como Chile ou México, o Brasil fez claramente mais progressos do que a maioria dos países na área.

Em abril, a OCDE divulgou um estudo sobre a última edição do exame, com ênfase nos estudantes que atingiram pontuação alta. Entre os brasileiros, em leitura, 1,1% dos estudantes atingiram o nível 5, o mais alto da escala (mínimo de 625,61 pontos, na escala até 800). Em ciências, o percentual brasileiro no nível 6, o mais alto, foi irrisório, e 0,5% chegaram ao nível 5; em matemática, 0,2%.

Na Coreia do Sul, 21,7% dos alunos chegaram ao nível máximo de leitura e 9,1% alcançaram o de matemática. Na Nova Zelândia, 4% fizeram o mesmo em ciências.

— Os professores nesses países conseguem dar conta das diferenças dos estudantes de modo muito construtivo: dão apoio aos mais fracos, sem deixar de incentivar as habilidades dos mais fortes.
(O Globo, 18/5)