Projeto Zé Peão

Projeto Zé Peão

Criado em João Pessoa, na Paraíba, em 1990, no bojo da renovação da luta sindical, o Projeto Escola Zé Peão é um forte exemplo da proposta de uma ação educativa para atender a um movimento social. A constatação de que a maioria dos operários que trabalhava nos canteiros de obra não era sequer alfabetizada fez a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de João Pessoa (Sintricom) procurar o Centro de Educação e o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para a realização de um projeto de alfabetização.

Esta relação entre o Sintricom e a UFPB estabeleceu nova maneira de trabalhar. A presença dos trabalhadores da construção civil nos momentos de elaboração da proposta, assim como em sua execução e avaliação permanente, criou um trabalho em conjunto no qual a realidade desses trabalhadores ocupou lugar central.

O grande desafio estava em fazer uma escola que não fosse aquela que os operários conheciam por sua ausência e suas falhas. Para isto, foi importantíssima a decisão das aulas acontecerem nos canteiros de obras, requerendo o deslocamento dos professores do Centro de Educação para os locais reservados ao Projeto.

A proposta curricular, traduzida na metodologia e expressa no material didático, conferiu ao Projeto seu caráter inovador e a possibilidade de ser um projeto em construção permanente. É coerente com seus princípios fundantes, garantindo a proximidade com o trabalhador da construção civil, o respeito a seu saber e o reconhecimento deste saber em uma relação dialógica com o processo de aprendizagem. Quanto ao material didático, a elaboração do texto Benedito significou o esforço de traduzir a vida do trabalhador da construção civil para o mundo da leitura e da escrita.

Os educandos são jovens e adultos, na faixa etária dos 20 aos 60 anos, a maioria vinda do interior do estado, normalmente trabalhando e morando nos canteiros de obras. O Projeto oferece dois programas básicos: o APL – Alfabetização na 1ª Laje, que atende às necessidades dos trabalhadores-alunos sem escolarização prévia, com ênfase na Linguagem e na Matemática; e o TST – Tijolo sobre Tijolo, destinado aos operários com domínio elementar da leitura e da escrita, buscando ampliar o domínio do saber sistematizado, a partir de sua experiência de vida e da realidade do aluno-trabalhador.

São realizados ainda vários programas de apoio: a Biblioteca Volante, com o objetivo de facilitar o acesso ao livro e estimular o gosto pela leitura e o desejo de escrever; a Varanda Vídeo, que traz o mundo para a sala de aula, funcionando como recurso auxiliar na formação cultural do aluno-trabalhador; a Oficina de Arte e as Atividades Culturais, que visam a contribuir para o desenvolvimento dos alunos-trabalhadores como seres sociais, culturais e históricos.

As aspirações para futuro próximo é ampliar a ação em cidades do interior, garantir o ensino fundamental completo e viabilizar a continuidade dos estudos. Em anos passados, duas turmas já conseguiram isto e alguns operários cursaram o ensino médio e tiveram acesso à universidade. Para tanto, é essencial superar a condição estrutural de “projeto”, que obriga seus coordenadores a recorrerem todos os anos a editais para a obtenção de verbas, nem sempre com regularidade assegurada. Ao mesmo tempo, precisa obter apoio decisivo da Secretaria Estadual de Educação, principalmente na oferta de ensino médio adequado às condições dos operários.

Os professores-alfabetizadores do Projeto Zé Peão são alunos dos cursos de licenciatura da UFPB, que recebem bolsa para seu trabalho. As atividades complementares são organizadas por voluntários, a maioria professores da própria UFPB.

Ainda que o Projeto tenha obtido reconhecimento e prêmios nacionais, como o Prêmio Educação para a Qualidade do Trabalho, a Medalha Paulo Freire, e internacionais como o da UNESCO, e tenha mantido intercâmbio com a Universidade de Illinois nos anos de 1990, isto não lhe garantiu reconhecimento que resultasse em valorização e apoio efetivo para sua manutenção. De resto, é um desafio avançar no nível de institucionalidade sem perder as especificidades da proposta.

No decorrer dos 20 anos de experiência, o Projeto Zé Peão contribuiu decisivamente para a formação de professores de educação de jovens e adultos, educadores que hoje atuam como regentes nas diferentes redes de ensino, gerentes educacionais e professores de ensino superior. No entanto, embora obtenha forte impacto sobre a formação dos professores alfabetizadores, em termos institucionais não tem causado impacto maior no Centro de Educação. Os universitários só têm contato com a educação de jovens e adultos ao final do curso de Pedagogia, o que torna difícil a identificação de um número maior deles com o público e com a modalidade. Há sugestões no sentido de regulamentar o Projeto como um espaço de estágio e se chegou mesmo a pensar em criar uma escola de aplicação de educação de jovens e adultos na UFPB, na qual fosse possível experimentar novos conhecimentos e novos métodos, a partir da experiência bem-sucedida de 20 anos do Projeto Zé Peão.

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