Movimento de Educação de Base - MEB


Escola do Engenho Vermelho - visita de supervisão na hora da aula em 08.06.1966

Apresentação I Fotos I Documentos I Didáticos I Livros

Criado pela Igreja Católica em 1961, com apoio do Governo Federal, propunha-se a desenvolver programa de alfabetização e educação de base, por meio de escolas radiofônicas, a partir de emissoras católicas. Após dois anos de atuação reformulou radicalmente seus objetivos e seus métodos de ação, aliando-se a outros movimentos de cultura popular do período. Com interrupções e refluxos, o MEB existe até hoje, tentando fazer ressurgir seu modo de atuação original.

 Prof. Osmar Fávero - Universidade Federal Fluminense - UFF

 

Apresentação

O MEB foi criado em 1961 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e apoiado pelo Governo Federal, mediante decreto presidencial e convênios com vários ministérios. Embora oficialmente separada do Estado, desde a proclamação da República, a Igreja Católica em muitos momentos foi sua aliada. Essa aliança foi forte no governo nacional-desenvolvimentista dos anos 1950, por iniciativa dos bispos progressistas do Nordeste brasileiro. Com elevados índices de mortalidade infantil, desnutrição e analfabetismo, na conjuntura da Guerra Fria, essa região era considerada “barril de pólvora”, temendo-se que nela se repetisse a Revolução Cubana.

O MEB tinha como objetivo inicial desenvolver um programa de educação de base, conforme definida pela Unesco, por meio de milhares de escolas radiofônicas, instaladas a partir de emissoras católicas. Após dois anos de funcionamento reviu esse objetivo e, alinhando-se aos outros movimentos de cultura popular, passou a entender a educação de base como processo de “conscientização” das camadas populares, para a valorização plena do homem e consciência crítica da realidade, visando sua transformação. Mudou também seu modo de atuação e o conteúdo de suas aulas radiofônicas, conforme retratado no Conjunto Didático Viver é Lutar para recém-alfabetizados que, apreendido por forças da direita, foi pedra de toque da repressão após o golpe militar de 1964.

Por ser ligado à Igreja Católica, foi o único movimento de educação popular que sobreviveu ao golpe. Apesar do estrangulamento provocado pela suspensão do apoio governamental, reviu seu modo de atuação, particularmente no que dizia respeito ao sistema radioeducativo. Nesse esforço, preparou o Programa para as escolas radiofônicas em 1965, com os respectivos manuais para os professores e textos de fundamentação, assim como o Conjunto Didático Mutirão (livros 1 e 2) e o Mutirão pra Saúde. Ao mesmo tempo, elaborou estudo específico sobre escolas radiofônicas. Simultaneamente, o MEB Goiás elaborou o material didático Benedito e Jovelina, inspirado no sistema de alfabetização de Paulo Freire.

No mesmo período, a partir das experiências realizadas em Goiás, nos “encontros” com a população, e no Maranhão, com o treinamento de líderes para o sindicalismo rural, e valendo-se do referencial teórico que fundamentava a ação de agências de desenvolvimento francesas no Senegal e no Marrocos, sistematizou o projeto de animação popular. A animação era uma forma de ação direta com as comunidades rurais, tendo em vista a crítica da situação por elas vivida e a superação de seus problemas imediatos, numa concepção de desenvolvimento integrado. Essa perspectiva permitiu-lhe original prática de participação popular, interrompida pelo endurecimento da ditadura, após 1968.

Todos os livros e documentos apresentados neste módulo referem-se aos anos 1961-1967, considerado “período áureo” do Movimento. Para uma informação mais detalhada ver MEB Histórico – Osmar Fávero.

Didáticos

Em decorrência da apreensão do livro de leitura Viver é lutar e estando mantida a necessidade de dispor de material didático próprio, o MEB decidiu preparar outro conjunto didático, novamente para atender com prioridade o Nordeste. Esse conjunto foi designado Mutirão e sua elaboração foi antecedida pela montagem do Programa 1965 para as escolas radiofônicas, no qual estavam indicadas atividades relativas ao trabalho agrícola (preparo do terreno, plantio, colheita e venda), as operações e sistemas de trabalho referentes a cada uma dessas atividades e o programa a ser desenvolvido (objetivos, atitudes motivadas pelos textos das lições, palavras-chave para a alfabetização e seus desdobramentos, conteúdos de matemática e relativos à promoção humana e à educação sanitária.

O conjunto didático compreendia o Mutirão 1, livro de alfabetização de adultos; o Mutirão II, livro de leitura para adultos, com o encarte Mutirão pra Saúde. Os dois últimos foram ilustrados por Ziraldo com desenhos a bico de pena, reproduzindo os traços dos bonecos de Vitalino. Foi preparado também um folheto com Instruções para aplicação dos livros de leitura Mutirão I e Mutirão II. Todos esses textos foram publicados em 1965 e no mesmo ano foi redigido o documento Escolas radiofônicas do MEB: notas sobre seus objetivos, sua programação e sobre o desenvolvimento dos alunos, publicado no início de 1966.

Os livros de leitura foram muito criticados, por terem substituído o forte conceito de conscientização pelo de cooperação, traduzido pela palavra mutirão. Embora ainda guarde alguma semelhança com a concepção do Viver é lutar, sofreram evidente autocensura, no que diz respeito à linguagem e ao conteúdo político. Resguardando-se a importância e o significado ímpar do Viver é Lutar, esse segundo conjunto didático, – principalmente pelo Programa 1965, que propõe a globalização das aulas, pela redação mais cuidada e em linguagem mais acessível dos temas de fundamentação, e também pelas Notas sobre os objetivos, a programação e sobre o desenvolvimento das escolas radiofônicas – revela o grau de amadurecimento do MEB sobre seu principal instrumento de ação no período: o sistema radioeducativo. Ao mesmo tempo, a partir das experiências realizadas no Maranhão (treinamentos) e em Goiás (encontros), sistematizava um modo de ação direta nas comunidades, designada como animação popular.

 

Livros

Educar para transformar:
resenha íntegra
Luiz Eduardo W. Wanderley

Católicos Radicais no Brasil: resenha I íntegra
Emanuel de Kadt - 2ª edição

Uma pedagogia da participação popular:
resenha íntegra
Osmar Fávero
A travessia do popular na contramão da educação:
 resenha I íntegra 
José Pereira Peixoto Filho
Movimento da Educação de Base: 
resenha I íntegra
Maria C. B. Rapôso

Escolas Radiofônicas de Natal:
resenha I íntegra
Marlúcia Menezes de Paiva (org.)