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Práticas Pedagógicas em EJA

         O que caracteriza uma diversidade brasileira? A construção do ser social protagonizador de sujeitos enquanto ente coletivo. Uma identidade de gênero, classe e etnia que pode referencializar matrizes curriculares para a Educação de Jovens e Adultos.

Formular políticas educacionais propondo como alternativa inclusiva a aprendizagem da diversidade no âmbito da cidadania deve eleger pontos de convergência na emancipação de um sujeito protagonizador de estados identitários de gênero, classe e etnia. E visualizando a abordagem darcyniana que aponta-nos para uma antropologia da pele brasileira evidenciamos a estrutura da sociedade que temos – dizimação dos índios, a escravização dos negros, a perpetuação de grupos hegemônicos no poder governamental, delegação autoritária dos comandos do Estado, articulação entre público e privado visando troca de favores, ditaduras militares, estratégias combinatórias entre partidos políticos – direita, centro e esquerda -  para efetivação de políticas econômicas globalizantes em detrimento da área social.

         O tema “Práticas pedagógicas em EJA na Diversidade e suas relações com o Pré- Projeto de Intervenção Local” remete-nos para o significado do fenômeno sociocultural, indicador de jovens, adolescentes e adultos que se encontram em estados de classe social, gênero e etnia propícios à exclusão - criminalidade e a drogadição. E aguça – me uma reflexão sobre o local onde trabalho, o Sistema Penitenciário do DF – contexto para realização do Projeto de Intervenção Local que escolhi como instância potencializadora da temática “Diversidade e Cidadania no EJA”.

         O sistema penitenciário - restrição de liberdade, semiliberdade e liberdade assistida – caracteriza-se por uma diversidade étnica cultural marcada por famílias vindas da periferia dos grandes centros urbanos, assentamentos e favelas – 65.7% não possuem o ensino fundamental completo, 40% estão na faixa etária de 18 a 25 anos e apenas 12% trabalham colaborando em atividade servil carcerária sem exigência de qualificação ou formação profissional.

         Descortinando este cenário e com base na evolução histórica da cidadania, dos estudos das vulnerabilidades sociais, da constituição de uma matriz lusitana, africana e indígena configuram-se as contribuições da Antropologia Cultural, do Simbolismo Místico e Sincretismo Religioso, das Abordagens Histórico-Crítica da Sociologia, dos processos identitários e da diversidade sociocultural que constitui o povo brasileiro.

         Assim, constituir uma prática pedagógica firmada na diversidade deve-se partir de políticas inclusivas para jovens e adultos que não tiveram oportunidades sociais de avançarem em seus estudos, ou mesmo, que, devido às condições onde cresceram ou motivados por determinações contextuais e ambientais, afastaram-se dos estudos escolares. Tais políticas inclusivas apresentam-nos questões de base para o Projeto de Intervenção Local: que tipo de homem formar? E para que tipo de sociedade? O que é ser social emancipado? Como atender estes indivíduos que apresentam dificuldades de acesso à educação e a saúde e se encontram propensos à exclusão em função do crime, das drogas, dos estados de indigência social ou descaso estatal?

         O que representa uma identidade de gênero, classe e etnia sob a perspectiva da abordagem darcyniana a que intitulei “a pele brasileira”, decodifica aspectos da comunicabilidade, da linguagem e dos fatores que identificam um verdadeiro protagonismo de sujeito enquanto ente coletivo. Instala-se aqui, o fenômeno da construtividade do ser social – por uma ontologia identitária que possa universalizar o fenômeno da unidade na diversidade. E o meio contextual dos educandos podem nos suscitar estratégias, fundamentos conceituais e metodológicos que apontem um sentido para experimentações inovadoras para um fazer pedagógico multicultural.

         Aperfeiçoam, assim, conhecimentos e reflexões sobre jovens e adultos que se encontram em estados de restrição de liberdade. E, o perfil original do Curso de Especialização em Educação e Diversidade na Cidadania com Ênfase na Educação de Jovens e Adultos, estimula a formação de pesquisadores ou agentes que possam protagonizar fenômenos multiplicadores de sujeitos enquanto entes coletivos – diversidade de gênero, classe, etnia e crença religiosa.

         Tais profissionais podem atuar em frentes e canais institucionais - escolas, universidades, espaços culturais, feiras de arte, ciência e tecnologia, associações de moradores, comunidades de base, entre outros – levando aos jovens, adolescentes e adultos em estados de vulnerabilidades sociais o caráter identitário de uma diversidade cidadã – os processos culturais e de reconstrutividade fundadas nas abordagens de gênero, classe e etnia, bem como seus processos emancipatórios mobilizadores de atitudes inclusivas – práticas conjuntas exercidas pelo trabalho comunitário, apresentações culturais, concursos e mostras artísticas, esporte, solidariedade, oficinas, laboratórios de justiça e direito social, etc.

 José Nildo de Souza é posgraduando em Educação na Diversidade e Cidadania com Ênfase em EJA pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília com Projeto de Intervenção Local de sua autoria intitulado "Projeto Diversidade ou A Construção do Ser Social: as influências da linguagem corporal na ressocialização de jovens e adultos condenados à pena de prisão".