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CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores*

CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores*

Primeiros tempos

As Escolas de Trabalhadores tiveram seu início ainda no período da ditadura militar implantada no país em 1964. As iniciativas mais antigas datam do final dos anos de 1960 e meados dos anos de 1970. Surgiram no campo da resistência à ditadura, como uma forma concreta de ação política na educação dos trabalhadores.

Eram iniciativas de operários que assumiam a tarefa da formação técnica e política dos trabalhadores, pois não concordavam que a educação profissional no Brasil fosse monopólio dos empresários. Sua postura crítica visava sobretudo o SENAI, órgão sustentado com recursos públicos, mas administrado privadamente e que se servia de uma pedagogia reconhecidamente individualista, com disciplina militar e autoritária, voltada para o adestramento taylorista dos operários.

Em 1979, realizou-se no Rio de Janeiro um primeiro seminário reunindo perto de quarenta dessas iniciativas de educação operária. Elas atuavam em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife, nos campos da serralheria, solda, mecânica industrial, tornearia, ajustagem, calderaria, estruturas metálicas, instalações elétricas residenciais e industriais, comandos elétricos, desenho técnico, entre outros.

Este primeiro encontro inaugurou uma série de seminários anuais, dando início a um longo processo de discussão. Todos os grupos concordavam em aliar a formação profissional à formação política. Em que sentido? Uma questão se colocou no centro dos debates: seria válido recorrer ao apelo da formação profissional como um chamariz que servisse apenas de trampolim para a conscientização política? Será que os conteúdos técnicos e os métodos e processos de aprendizagem deveriam ser considerados como neutros? Ou o próprio conteúdo técnico e o processo de aprendizagem não deveriam, também eles, ser encarados politicamente, como uma das matérias primas dessa formação política?

Logo após o segundo seminário realizado em 1980, em Belo Horizonte, alguns participantes se reuniram para aprofundar esse debate que foi publicado com o nome “A questão política da aprendizagem profissional” (Caderno CEDI n°6, 1980).

Mantendo um ritmo de seminários anuais, as discussões puderam acompanhar a grande crise que marcou a década de 1980 quando, após o período do “milagre brasileiro”, as mudanças na produção industrial e o aumento do desemprego  trouxeram novas dificuldades e preocupações.

  • Qual a situação e as perspectivas da indústria nacional e quais os reflexos dessa situação para os cursos profissionais?
  • Como vai a luta dos trabalhadores, não apenas dentro, mas também fora das fábricas?
    • Há, por parte do sistema, alguma estratégia para o que se vem chamando de "economia informal"?
    • Será que o que hoje se pede do profissional vai ser o mesmo que se pedirá amanhã?
    • Não há profissões que desaparecem e novas que surgem? Como anda o processo da automação?

Ainda:

  • Qual o papel das escolas profissionais operárias diante dessa crise?
  • Como pensar a sobrevivência dessas escolas?

E muitas eram as questões levadas dos seminários para se refletir em cada escola:

  • a inserção dos cursos nas comunidades e nas formas de organização popular locais;
  • a necessidade da reciclagem profissional;
  • o relacionamento de trabalhadores urbanos com trabalhadores do campo, em especial aqueles da pequena agricultura familiar;
  • as novas formas de produção associada nas zonas urbanas, a exemplo do que os agricultores vinham experimentando na roça;
  • até que ponto, nas escolas operárias, valeria a pena trabalhar com profissões que só possibilitariam trabalhos como biscateiros?

Em 1985, essa sistemática de encontros anuais foi interrompida, mas as trocas havidas até então possibilitaram que as escolas desenvolvessem um processo de educação entre trabalhadores cujas características estão vivas até hoje.

  • Nas escolas de trabalhadores, o que se busca fortalecer não é o modelo de pedagogia oferecido pelas classes dominantes: individualista, autoritária, bancária, hierarquizante, e que reduz o campo de conhecimento do trabalhador.
  • Mas, sim, um processo de educação que é construído entre companheiros, de modo horizontal, participativo, valorizando a experiência de vida e de trabalho que cada um traz e a contribuição de cada um, para, a partir daí, se construir o caminho para um conhecimento sempre mais amplo.
  • Discute-se muito a dimensão política da técnica e da formação profissional.
  • Aprofunda-se o debate sobre a não neutralidade da técnica do ponto de vista da exploração do trabalhador, da negação do conhecimento, do esgotamento do planeta etc.
  • Propõe-se a construção conjunta de um processo pedagógico que marque a educação entre trabalhadores pelas seguintes características: a criação conjunta do saber; a partir da experiência de cada um; por meio de um método de perguntação/formulação do pensamento e decifração em comum; e com a participação pessoal e direta de todos.
  • Experimentam-se programas de solidariedade concreta, reunindo trabalhadores urbanos e rurais, e que se relacionam por intermédio dos frutos de seus próprios trabalhos.
  • E  busca-se o resgate da história do trabalho e das técnicas, das lutas dos trabalhadores e das sociedades.

A fundação do Conselho de Escolas Operárias
Após esse primeiro ciclo, as discussões mais sistemáticas foram retomadas em 1989, por algumas escolas que conseguiram ultrapassar aqueles tempos difíceis e se consolidaram enquanto escolas operárias. Foram elas:

  • AST – Ação Social Técnica (Belo Horizonte/MG)
  • CADTS – Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento Técnico Social (São João de Meriti/RJ)     
  • CAT – Centro de Aperfeiçoamento do Trabalhador (Betim/MG)
  • CTC – Centro de Trabalho e Cultura (Recife/PE)
  • Escola Nova Piratininga (São Paulo/SP).

Essas escolas é que, em um seminário em 1989, vão formar o Conselho de Escolas Operárias.
Este Conselho se definia como “reunião de escolas voltadas à construção de alternativas de Educação da Classe Trabalhadora” que, juntas, elaboraram o Projeto de Educação Operária.
A CAPINA – Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa foi a instituição escolhida para secretariar o Conselho.

Novos tempos
Sobre as proposições desse projeto, o Conselho se consolida e se expande durante os anos de 1990. E novas escolas vêm se juntar a ele:

  • Escola José César de Mesquita,  dos Metalúrgicos de Porto Alegre/RS
  • Colégio Graham Bell,  dos Telefônicos do Rio de Janeiro/RJ
  • Colégio Metalúrgico,  dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro/RJ
  • CPA – Centro de Profissionalização de Adolescentes, de São Paulo/SP
  • Centro Comunitário São Paulo Apóstolo, de São Paulo/SP
  • Centro de Capacitação Profissional Henry Ford, de São Paulo/SP
  • CEDISP – Centro de Educação e Democratização da Informática de São Paulo/SP
  • Associação dos Trapeiros de Emaús, de  Recife/PE.

Retoma-se então a sistemática dos seminários anuais, enfrentando-se os desafios gerados pela guinada das políticas neoliberais implementadas nos governos de Collor e FHC, na década de 1990.
Nesse período, a drástica redução dos postos de trabalho decorrente das mudanças tecnológicas ou das novas modalidades de organização do trabalho criou grande perplexidade entre os trabalhadores, acossados pelo desemprego ou pela ameaça de serem despedidos.
Foi quando, em 1993, o Conselho se debruçou sobre o tema “O desenvolvimento tecnológico, suas tendências atuais e decorrências para os trabalhadores”, iniciando um ciclo de discussões abordando os seguintes temas principais:

  • o papel da ciência e da tecnologia
  • a questão do trabalho na sociedade atual
  • a ampliação da exclusão social
  • a educação dos cidadãos trabalhadores

O Relatório do Seminário de 1993 e seus anexos: Desenvolvimento tecnológico e tendências atuais (coletânea de textos), e Atuais tendências do capitalismo e suas decorrências para os trabalhadores (transparências), de Rogério Valle, expressam o grau de profundidade a que chegaram os debates.
Essas discussões prosseguiram nos seminários subsequentes, até que, em 1995, o Conselho definiu sua  Plataforma de Educação para Cidadãos Trabalhadores
O texto da Plataforma resume as principais posições do Conselho até aquela data e inclui, como proposta, um desenho de Centros Públicos de Educação de Cidadãos Trabalhadores.
Não é pouco significativo que, a partir de 1995, o Conselho de Escolas Operárias passe a se chamar CET .

Momento atual (2009)
Além dos encontros anuais, nos primeiros anos do novo século as escolas do CET se reuniram em oficinas para discussão e troca de experiências sobre seu trabalho em sala de aula. A sistematização dessas discussões resultou no documento Uma pedagogia para educação de cidadãos trabalhadores que resume a prática pedagógica das escolas. 
Nos seminários anuais a partir de 2002, os temas em debate têm se referido, sobretudo, a:

  • Economia solidária
  • Políticas públicas de educação, formação profissional e trabalho
  • Desafios das juventudes nos tempos contemporâneos

Esses encontros anuais das escolas, além de proporcionarem um fecundo exercício da troca de experiências, de conhecimentos e de práticas, renovam a busca de aprofundar, juntos, a compreensão do mundo atual e dos novos temas e conceitos que se apresentam no campo da educação de cidadãos trabalhadores. Fortalecendo as relações de reciprocidade entre todos no compromisso comum de construção de um “outro mundo possível”.
É importante observar que, ao completar 20 anos de atividades, o CET abre o debate sobre três questões que marcam a sua existência:

  • Mundo do trabalho nos dias atuais e, aí dentro, a Economia Solidária
  • Cenários e desafios  para os jovens no mundo de hoje
  • Formação política para jovens e educadores nos dias que correm

O aprofundamento desses temas propiciou a discussão visando à atualização da Plataforma.

 

* Informações obtidas no portal das Escolas de Trabalhadores, acessado em junho de 2015, em Oficinas Pedagógicas - CAPINA