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CUT – Central Única dos Trabalhadores

CUT – Central Única dos Trabalhadores

Desde sua criação, em 1983, a CUT investiu na formação política de seus quadros, principalmente em São Paulo. De início contou com a assessoria dos centros de educação popular, entre eles o CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae, do URPLAN – Instituto de Planejamento Urbano e da FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. Seus representantes participavam também dos seminários promovidos pelo CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores, o que garantiu o acesso a prática da educação popular, associada à formação política.

Na segunda metade dos anos de 1980, no entanto, a CUT/SP já havia criado o Setor de Formação Política. No início da década de 1990, motivada pela discussão sobre a importância da educação e da formação profissional para a empregabilidade e o desempenho dos operários no atual fase do capitalismo, marcada por acelerada transformações tecnológicas, assumiu o debate sobre a educação profissional, envolvendo vários setores do movimento sindical. Na segunda metade dessa década, incentivada pela disponibilidade de recursos do PLANFOR – Programa Nacional de Formação Profissional , operado pelo Ministério do Trabalho e Emprego com os recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador , passou a definir o Programa Político-Pedagógico de Educação e Formação Profissional para Trabalhadores.

O primeiro dos programas organizados foi o Integrar, sob a liderança da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, visando à formação para o trabalho com certificação em nível do ensino fundamental e com a geração de alternativas em emprego e renda. Em parceria com a PUC/SP e a Unitrabalho, para os aspectos metodológicos, do DIESSE para os estudos sobre a reestruturação produtiva, e a COPPE/UFRJ, para a produção dos módulos sobre informática, a seção sindical do Rio Grande do Sul produziu alguns textos teórico-metodológicos, publicado em 1998/1999, na série Cadernos de Reflexão, e material didático específico inovador para os 14 módulos dos cursos, dos quais foram reproduzidos neste documentário apenas os disponíveis. A mesma experiência foi replicada em vários outros estados brasileiros, com produções específicas.

Simultaneamente, a Secretaria Nacional de Formação da CUT, em 1998, fixou as Bases do Projeto Político-Pedagógico do Programa de Educação Profissional, assumidas no Programa Integração – Ramo Telemática, implantado na maioria dos estados brasileiros por meio das confederações e federações de 13 ramos produtivos, no período 1999/2002. Esses dois programas envolveram trabalhadores urbanos e rurais, assalariados e desempregados, dos setores formal e informal da economia, tendo por finalidade desenvolver a educação profissional articulada à escolarização básica com terminalidade no ensino fundamental e no ensino médio. Sua matriz curricular rompeu a lógica do ordenamento disciplinar, objetivando propiciar aos educandos um percurso formativo centrado nas relações e inter-relações com a vida concreta dos trabalhadores jovens e adultos, partindo e dialogando com conhecimentos trazidos por estes sujeitos.

A proposta do Programa Integração tomou como eixo fundamental o Trabalho e se desdobrou em quatro áreas: 1. Comunicação, Cultura e Sociedade; 2. Conhecimento e Tecnologia; 3. Sujeito, Natureza e Desenvolvimento; 4. Gestão e Alternativas de Trabalho e Renda. Cada área foi composta por temas de concentração que constituíam uma identidade própria e, ao mesmo tempo, ampliavam as possibilidades de uma abordagem da totalidade, que articulasse o geral e o específico, o global e o local, o simples e o complexo, as categorias e os conceitos, além dos conhecimentos pertinentes a cada ramo produtivo.

Os cursos foram desenvolvidos em 12 módulos para o ensino fundamental, totalizando uma carga horária de 816 horas e, em 15 módulos para o ensino médio, totalizando uma carga horária de 1.030 horas. Para cada módulo foram produzidos Cadernos de Orientação Metodológica e Coletâneas de Textos, para os educadores, e Fichas Geradoras de Debates, para os educandos. Estes módulos são extremamente inovadores, em especial as Fichas para os Alunos que contêm artigos, poemas, letras de músicas, estatísticas etc., adequadas ao nível visado.

Para a efetivação da integração entre os temas abordados, previu-se a unidocência, tendo sido dada atenção especial aos educadores, em termos de formação inicial e de acompanhamento sistemático. Este foi o aspecto mais delicado, tanto no que diz respeito à efetiva permanência e dedicação dos educadores formados, pelas dificuldades habituais de falta de regularidade nos pagamentos e acumulação de tarefas, mas principalmente quanto ao domínio dos temas das áreas humanas e técnicas, pois a formação básica nas universidades é estritamente disciplinar. As atividades formativas do Programa eram desenvolvidas em salas de aula e em espaços comunitários diversos, de acordo com as finalidades de cada ação, a saber: laboratórios pedagógicos, que visavam à ampliação do universo científico-cultural e as oficinas coletivas locais, que buscaram propiciar o debate dos trabalhadores junto à comunidade e ao poder público local visando a potencializar a construção de alternativas de trabalho e renda, com base nos princípios de sustentabilidade e solidariedade.

Além dos documentos de definição do Projeto Político-Pedagógico, elaborados pela CUT, são referências essenciais para o entendimento da proposta cutista, em geral, e do Programa Integração, em particular, o livro Educação integral dos trabalhadores: práticas em construção, organizado por Maristela Miranda Barbara, Rosana Miyashiro e Sandra Regina de Oliveira Garcia, editado pela própria CUT, e o artigo “Programa Integração: avanços e contradições de uma proposta de educação formulada pelos trabalhadores”, de Sonia Maria Rummert, publicado na Revista Brasileira de Educação n. 27, out./dez. 2004, p. 138-153).

A inserção deste material na documentação relativa à educação popular se justifica pelo caráter inovador de sua proposta político-pedagógica e pela excelência de seu material didático. Estas duas características a aproximam de outras experiências implantadas, no mesmo período, a elas acrescentando a importância de tomar a categoria Trabalho como eixo fundante de sua proposta.

   
  Educação integral dos trabalhadores
Maristela Barbara e outras
Programa Integração: avanços e contradições
Sonia Rummert