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Cruzada ABC – Ação Básica Cristã

Cruzada ABC – Ação Básica Cristã*

A Cruzada ABC foi criada no Recife, em 1962, por um grupo de professores do colégio evangélico Agnes Erskine. Suas primeiras ações, designadas “Promoção Agnes”, apoiadas pelo governo do estado de Pernambuco na gestão Cid Sampaio, foram dirigidas à alfabetização da população residente em bairros pobres do Recife. O sucesso dessa iniciativa e a suspensão das atividades dos movimentos e cultura e educação popular, após o golpe militar de março de 1964, motivaram a elaboração de um plano-piloto de educação de adultos, implantado em alguns bairros da mesma cidade pela Cruzada ABC, com financiamento da Aliança para o Progresso e da fundação norte-americana Agnes Erskine.

Experimentados e aprovados o material didático e a atuação dos professores voluntários, e assumindo o conceito de desenvolvimento de comunidade e a filosofia da educação defendida pela Cruzada, as ações foram expandidas imediatamente no Recife e no Grande Recife e logo após implantadas nos estados de Paraíba, Sergipe, Ceará, Alagoas, Rio de Janeiro e Guanabara, com recursos da Aliança para o Progresso e do governo brasileiro, mais doações de entidades privadas nacionais e internacionais.

O objetivo inicial da Cruzada ABC era alfabetizar inicialmente um milhão de adultos, em acordo com o MEC aumentado para dois milhões, em cinco anos. Mas logo passou a dar ênfase ao ensino primário de quatro anos, em cursos de 18 meses, ao ensino profissional e à educação sanitária. Adotou também, como objetivo complementar e garantia de frequência às aulas, a distribuição de alimentos aos alunos, professores contratados e voluntários, o que se converteu no esteio do programa de organização comunitária. Pretendia ainda implantar e orientar os sistemas estaduais de educação de adultos, responsabilizando-se pela formação dos professores e do pessoal responsável, assim como implantar os métodos e técnicas pedagógicos, o que efetivamente conseguiu no estado da Paraíba.

Ponto forte da Cruzada ABC foi a produção e a distribuição do material didático, para a alfabetização e a pós-alfabetização. Esse material era impresso por ela própria, em uma gráfica alugada no Recife, e distribuído gratuitamente aos milhares, em suas áreas de atuação. Sua orientação, no entanto, foi a mesma utilizada pela CNAA – Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos dos anos de 1950.

A Cruzada ABC pretendia e chegou a ser cogitada pelo MEC como única campanha de alfabetização brasileira na segunda metade dos anos de 1960. No entanto, dificuldades de obtenção de recursos financeiros para sua manutenção, cada vez mais elevados, críticas à improbidade no uso dos recursos, aliadas a críticas radicais sobre sua programação, sua orientação estrangeira, sua concepção do analfabeto como incapaz, e também a implantação do MOBRAL, em 1970, provocaram sua progressiva extinção nos estados em que atuava.¹

* Redigido com base em Vanilda Paiva, Educação popular e educação de adultos; contribuição à história da educação brasileira (São Paulo: Loyola, 1973, p. 268-282) ou História da educação popular no Brasil (São Paulo: Loyola, 6. ed. revista e ampliada, p.296-310).

¹ Além do livro de Vanilda Paiva citado, dispõe-se também do livro Contexto sociopolítico e educação popular: o caso da Cruzada ABC, de Emília Maria da Trindade Prestes e Vicente de Paulo Carvalho Madeira (João Pessoa: Ed. Universitária, 2001) e A educação de jovens e adultos: histórias e memórias da década de 60, de Afonso Celso Scocuglia (Campinas: Autores Associados e Brasília: Plano, 2003), neste último especialmente Cap. II – A Cruzada ABC contra o Sistema Paulo Freire e a esquerda no pós-golpe de 1964 (p. 79-160), reproduzidos neste documentário.