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Depois de SP, Santa Catarina recolhe livros nas escolas

Depois de São Paulo retirar livros distribuídos nas escolas públicas sob a alegação de que eles contêm trechos com conteúdo inadequado, a Secretaria de Educação de Santa Catarina recolheu 130 mil exemplares de “Aventuras provisórias”, do premiado escritor catarinense Cristóvão Tezza. A decisão foi motivada pela reclamação de duas professoras, uma de Joinville e outra de Criciúma, que consideraram o vocabulário do livro inadequado para alunos do ensino médio.

Segundo o diretor de Educação Básica da secretaria, Antônio Pazeto, que determinou o recolhimento, alguns trechos poderiam “criar polêmica sobre questões morais, de costumes e espirituais”:

— Os termos usados no livro são um pouco contundentes e envolvem questões bastante sensíveis. Mas eu, pessoalmente, como educador, considero que o livro pode ser trabalhado pelos professores, em determinados assuntos, para a faixa etária de 15 a 16 anos.

Maria Gorete da Silveira, assistente técnica pedagógica do Colégio Estadual Governador Heriberto Hülse, em Criciúma, que pediu o recolhimento, alegou que há palavras chulas e a banalização da relação sexual.

“A tua grande fraqueza — me disse Mara na cama, a primeira vez, quando eu broxei vergonhosamente mesmo depois de baixar a calcinha dela com os dentes e chupá-la como um pêssego maduro, na boca um gostinho de sal molhado — é que teu orgulho te castra. Disfarçadamente, você exige que todos te dêem atenção, te bajulem, te achem o máximo. Se alguém recusa o jogo, mesmo sem maldade, como eu (e olhe, eu gosto muito de você, você é sensível), você entra em pane e fecha a couraça”, diz um dos trechos.

Para Maria Gorete, os adolescentes não estão preparados para esse tipo de texto.

— Queremos extinguir esse vocabulário da boca dos alunos e do ambiente escolar.

Tezza já recebeu os prêmios Jabuti, Bravo Livro do Ano, Portugal e São Paulo de Literatura.

Cinco especialistas leram e deram parecer favorável ao livro, mas o secretário de Educação, Paulo Bauer, decidiu mandar recolhê-lo quando uma das professoras reclamou e a outra levou o caso à imprensa.

Em São Paulo, mais quatro livros foram retirados das escolas estaduais ontem. De acordo com a Secretaria da Educação, as obras tinham conteúdo preconceituoso e eram inadequadas para a faixa etária a que estavam destinadas. O governo José Serra (PSDB) não informou o número de exemplares que foram distribuídos. Até agora, seis dos 817 livros do programa “Ler e Escrever” foram recolhidos.
(O Globo, 30/5)