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Fórum Mundial de Ciência e Democracia: carta aberta

Nosso objetivo é iniciar um processo aberto e inclusivo visando a construção de uma rede internacional de movimentos, organizações e indivíduos que compartilham essa visão crítica.

Atendendo a uma convocatória proveniente da França, nesta edição do Fórum Social Mundial reuniu-se pela primeira vez um grupo de pessoas, de 18 países em 4 continentes,  pessoas que compartilham uma visão crítica da maneira como a ciência e a tecnologia são praticadas no mundo capitalista de hoje, em particular com os processos de mercantilização a que elas são submetidas pelo neoliberalismo, com a falta de democracia nos processos de sua condução, e com os usos militares que são feitos delas. Demos a essa iniciativa o nome de Fórum Mundial Ciência e Democracia.
Nosso objetivo é iniciar um processo aberto e inclusivo visando a construção de uma rede internacional de movimentos, organizações e indivíduos que compartilham essa visão crítica.
Como resultado das discussões realizadas ao longo desta semana, estabelecemos alguns princípios para nortear nossas ações, entre os quais se encontram:
1.    Todo conhecimento, inclusive a ciência, é a herança comum da humanidade.
2.    O conhecimento e os métodos de sua produção podem resultar tanto na emancipação e no bem de todos, quanto em dominação e opressão
3.    Apoiamos os regimes garantem e promovem os sistemas de bens públicos e outros sistemas de recompensar a inovação que não tem como premissa a criação de monopólios e a rentabilidade.
4.    O impacto da ciência e da tecnologia forma uma parte importante das crises que assolam o mundo hoje: a crise econômica, a crise ecológica, a crise relacionada à produção e ao uso da energia, a crise da segurança alimentar, da democracia, e da guerra. É necessário aprofundar nossa compreensão a respeito de como a ciência e a tecnologia são parte tanto dos problemas criados por essas crises, quanto de sua solução.
5.    É necessário reconhecer que os valores das comunidades científicas são moldados por processos históricos e sociais. A autonomia e a responsabilidade social dos pesquisadores, bem como o caráter público e universal da ciência, precisam ser preservados, porém levando em conta as diversidades sociais e culturais do tempo presente.
6.    Iniciativas visando o envolvimento informado de cidadãos nos processos de tomada de decisões a respeito da ciência e da tecnologia, em todos os níveis, devem ser promovidas.
7.    É absolutamente necessário mudar a situação de hoje, em que os interesses do mercado, o lucro das empresas, a cultura consumista e os usos militares são os principais elementos que determinam os rumos da pesquisa científica e tecnológica.
8.    Adotamos a preservação da vida humana como um valor primordial, e assim conclamamos a comunidade científica e tecnológica a não empreender pesquisas com fins militares.
9.    Sistemas de pesquisa colaborativos e participativos, de baixo para cima, precisam ser promovidos.
10.    Temos por objetivo a construção de uma rede internacional que ressalte a importância da ciência e da tecnologia, de acordo com uma abordagem que questione as tendências perigosas que elas manifestam nos dias de hoje em relação à democracia e ao meio ambiente, em decorrência da dinâmica da globalização neoliberal.
 Deste movimento devem participar os cientistas, assim como os movimentos sociais e todos os cidadãos. Sendo assim, procuramos estabelecer um diálogo entre a comunidade científica e os movimentos sociais.

Além de uma rede internacional baseada na Internet, em termos práticos, decidimos realizar Fóruns regionais em 2010, e o segundo Fórum Mundial Ciência e Democracia em 2011, em conjunto com o Fórum Social Mundial.
Conclamamos todas as pessoas, organizações e movimentos que compartilham nossa visão a organizar debates para difundir essas idéias, e lutar por uma ciência mais democrática, mais humana, uma ciência capaz de realizar as promessas feitas em seu nome desde a Revolução Científica.