Educação Popular II

Educação Popular II

Retoma-se, nesta etapa, a apresentação das propostas e experiências da que pode ser considerada segunda fase da Educação Popular, de meados dos anos de 1970 até os dias atuais.

Em contraponto às propostas engendradas pelo Estado e pelas instituições empresariais a ele associadas, e às discussões que ocorriam na Academia, outras ações ocorriam na sociedade, em termos de apoio e sistematização de iniciativas nascidas dos movimentos populares. Essas ações eram normalmente apoiadas pelas Igrejas católica e protestantes, contando com o financiamento de instituições internacionais, a maioria delas também ligadas às mesmas Igrejas. Esse é o momento forte da abertura da Igreja católica à população mais pobre, com as pastorais (dos índios, dos negros, dos operários, da juventude...) e da rica experiência das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, alimentadas pela Teologia da Libertação.

Em 1972, profissionais que provinham dos movimentos de cultura e educação popular do início dos anos de 1960, particularmente do MEB – Movimento de Educação de Base, e outros ligados às ações pastorais e ao sindicalismo, preocupados com a dispersão daquelas ações, realizaram um seminário do qual originou a criação de uma agência¹ de assessoria e pesquisa em educação – o NOVA, com sede no Rio de Janeiro.

Já funcionava no Rio de Janeiro, desde 1964/1965, o CEI – Centro Evangélico de Informação, formado por militantes ligados à Confederação Evangélica do Brasil, afastados de suas igrejas após o golpe civil-militar de 1964. Em 1968, com a incorporação de militantes católicos, o CEI passou a denominar-se Centro Ecumênico de Informação e, em 1974, institucionalizou-se como CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação.com uma subsede em São Paulo. Dentro de seu projeto de reflexão sobre o momento político, possibilidades de resistência ao autoritarismo vigente e aspirações de mudanças, com os grupos de base, o CEDI definiu um projeto de educação popular, também em termos de pesquisa e assessoria, e uma fértil linha de publicações periódicas.

Apesar de muito dependente das iniciativas governamentais, inclusive do MOBRAL, e com sua organização estritamente ligada aos bispos, em suas respectivas dioceses, em alguns estados do Nordeste (por exemplo, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí) conseguiu manter uma programação radiofônica e ações de animação popular, atendendo aos interesses populares, No caso da Amazônia. Em particular Tefé, sua atuação voltou-se também para a criação e fortalecimento de associações de ribeirinhos e de seringueiros explorados pelos patrões.

Outra rica experiência foi organizada, também desde meados de 1970, por operários e ex-líderes sindicais, perseguidos pelo governo autoritário, que discordavam da orientação dos cursos oferecidos pelo SENAI – Serviço de Aprendizagem Industrial: treinamentos usando manuais de ensino dirigido e formação política na educação de trabalhadores na aceitação do sistema. Um grupo de 13 escolas se reuniu no Conselho das Escolas de Trabalhadores e, assessorados pela agência CAPINA – Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa, passaram a realizar seminários anuais, revendo sua ação, e seminários temáticos, para aprofundar a metodologia de trabalho. Os documentos resultantes desses seminários, na definição de sua pedagogia e os relatórios das oficinas pedagógicas expressam exemplar definição da pedagogia para a formação técnico-política de adultos operários.

Por sua vez, ao longo desses mesmos anos, a Secretaria Nacional, de Formação da CUT – Central Única de Trabalhadores definiu as Bases do Projeto Político Pedagógico do Programa de Educação Profissional, expressas nos Programas Integrar e Integração, para os quais foram produzidos materiais didáticos e modos de trabalho extremamente inovadores. E, na mesma linha, o MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra também definiu a linha de formação política dos militantes e tem produzido farto material para as escolas do movimento e para a formação não escolar dos militantes em geral, em termos de política, e das mulheres e das crianças, em particular, em termos de cultura e de lazer.

Também ligados aos movimentos sociais e com ações de alfabetização, assessoria a grupos de base e, no início dos anos de 1980, forte assessoria à formação da CUT e do PT – Partido dos Trabalhadores, temos duas outras iniciativas, ambas sediadas em São Paulo: o CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae e o URPLAN – Instituto de Planejamento Regional e Urbano, ligado à PUC/SP, mas com grande independência em relação a ela. Os objetivos do URPLAN eram a pesquisa voltada para a problemática das políticas públicas e a assessoria aos movimentos populares; ao longo do tempo desdobrou-se no GEP – Grupo de Educação Popular.

Com ações dirigidas aos chamados agentes – profissionais que se dedicam à alfabetização de pessoas das camadas populares e à educação de jovens e adultos, destacam duas outras instituições: o SAPÉ – Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação, criado em 1983/1984, visando especificamente à formação de educadores de jovens e adultos, em uma proposta alternativa de diálogo na troca de saberes e na relação democrática nas relações de poder. O SAPÉ, a partir de pesquisa realizada em classes de alfabetização de jovens e adultos e da experiência dos “coletivos de formação”, produziu três números do Almanaque do Aluá, material didático, ao mesmo tempo tradicional e inovador para a educação de jovens e adultos. Com a mesma perspectiva, e fortemente ancorado na pedagogia de Paulo Freire, temos ainda o VEREDA – Centro de Estudos em Educação, criado em 1982, também com materiais originais em sua linha de trabalho.

O que estamos designando como segunda fase da Educação Popular, fortemente apoiada por financiamento internacional,² foi marcada pela definição de novas formas de trabalho, com os movimentos sociais em geral e com os movimentos sindicais e políticos, em particular (reorganização das bases sindicais, criação da CUT e do PT) e por uma abertura das agências e centros para com outros movimentos e instituições da América Latina, em uma fértil parceria de estudos e troca de experiências. Foi marcada também por um esforço de reflexão bastante importante. Como nos diz Aída Bezerra e Rute Rios, no artigo A negociação, disponibilizado neste documentário:

O período da ditadura militar, assim como ocorreu em vários países da América Latina, empurrou o que subsistiu dessa época - enquanto uma qualidade nova da intervenção educativa junto às camadas populares - para a clandestinidade, semiclandestinidade e para o isolamento. Foi uma fase que se caracterizou pela resistência às forças de repressão e pelo estudo do marxismo como apoio teórico da ação desenvolvida. Althusser, Lucaks, e Gramsci eram os autores a quem mais recorriam os educadores ou os encarregados da formação de quadros. Sem esquecer, evidentemente, a influência que teve Mao Tse Tung e a experiência chinesa sobre determinados grupos.

Somente a partir da segunda metade dos anos de1970 é que começou a ser analisada criticamente a acumulação que as iniciativas de educação popular se fizeram ao longo desse percurso histórico/político/pedagógico. Falamos de uma exploração mais abrangente e que não se ateve, somente, à reserva imediata de instrumentos teóricos/práticos – de mobilização, organização e ações mais especificamente educativas – utilizados em função do fortalecimento do poder de intervenção das camadas populares. Aliás, essa aliança dos educadores com os grupos populares sempre foi clara e explícita em suas intenções, mas nunca chegou a ter (salvo raras exceções) muita consistência nem em seus fundamentos nem em suas consequências, dado, possivelmente, o grau de ativismo que caracterizava as intervenções.

A credibilidade que uma grande parte desses educadores emprestava ao seu esquemático/simplificado suporte teórico, sobretudo os mais letrados, lhes tinha dado margem a se relacionar com certa superioridade com os grupos populares, cujo estágio de consciência política era considerado insuficientemente instrumentalizado para o inadiável confronto de classes. Ao mesmo tempo, a vocação de serviço e dedicação aos mais pobres (levando em conta aí que a maioria dos quadros de educação popular era recrutada nos meios cristãos ou entre militantes de organizações marxistas) levava-os a dignificar eticamente o tipo de intervenção e a valorizar o humilde e o simples quase que por categorias religiosas.

A militância chamada salvacionista foi um resultado compreensível desse casamento da utopia política com a construção do Reino. No entanto, foi por esse viés que se inaugurou uma nova forma de compromisso social da educação com as populações deserdadas do protecionismo estatal e restringidas, pelos mecanismos de expropriação do sistema, no seu desempenho sociopolítico.

O grande número de agências ou centros e seu largo período de atuação, de meados dos anos de 1970 até os dias atuais, e a dificuldade de reunião dos documentos produzidos, permitiu apenas seu registro e algumas análises preliminares. Além disso, não foi possível contemplar algumas instituições importantes, por exemplo, a FASE – Federação de Atendimento Sócio-Educativo, o Centro Pastoral Vergueiro e o CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, com atuação em plano nacional. Da mesma forma, foi impossível detalhar a parceria com movimentos e instituiçoes da América Latina, em especial a significativa produção no que diz respeito à definição da educação popular e sua relação com os movimentos sociais.³

Nesse sentido, um livro fundamental é Educação popular: utopia latino-americana, organizado por Moacir Gadotti e Carlos A. Torres e publicado por Cortez e Edusp, em 1984. Nele, um dos textos mais significativos é o de Oscar Jara, “El reto de teorizar sobre la práctica para transformala”. Para o caso brasileiro, a referência mais atual é Educação popular; lugar de construção social coletiva, organizado por Danilo R. Streck e Maria Teresa Esteban, publicado pela Editora Vozes em 2013.

 

 

¹ Durante as várias décadas usou-se a denominação agência ou centro de educação popular. Apenas nos anos de 1990 foi assumida a designação organização não governamental. Ver Leilah Landim, A invenção das ONGs; do serviço invisível à profissão impossível. Tese de doutoramento defendida em 1993, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

² Sobre essas formas de financiamento, ver Sérgio Haddad, O papel das agências europeias no apoio aos processos de educação popular no Brasil.

³ Muitos outros centros tiveram atuação destacada no período, com expressão local: SEDUP – Serviço de Educação Popular (Guarabira/PB), CEPAC – Centro Piauiense de Educação Popular (Teresina/PI), CECOP – Centro de Educação e Comunicação Popular D. João Batista (Vitória/ES), CESAP – Centro de Serviço e Assessoria Popular, posteriormente transformado em CEDAP – Centro Educação e Assessoria Popular (Campinas/SP), IFAS – Instituto de Formação e Assessoria Sindical (Goiânia/GO), CEDANPO – Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares (Campo Grande/MS).Ver Bárbara Lopes, Semeadores da utopia; a história do CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae. (São Paulo: Expressão Popular, 2013, p. 95-97)

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O Papel das Agências de
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CTC – Centro de Trabalho e Cultura

O CTC é uma escola de trabalhadores, formada por trabalhadores, que se dedica à profissionalização de jovens e adultos de baixa renda da Região Metropolitana do Recife, desenvolvendo um projeto pedagógico com forte conotação política, com o intuito de formar educandos protagonistas e ativos na sociedade.

Originou-se do Instituto Profissional São José, antigo patronato entregue à Arquidiocese de Recife e Olinda pela congregação mantenedora, em 1964. Sob a direção inicial do MEB – Movimento de Educação de Base de Pernambuco, órgão da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, passou a designar-se CAP - Centro de Aprendizagem Profissional. Com o encerramento das atividades do MEB, a equipe responsável deu continuidade ao trabalho, desvinculando-o da Arquidiocese e estruturando o CTC - Centro de Trabalho e Cultura.

Gradativamente, o CTC foi construindo a sua identidade, privilegiando a formação política e profissional de trabalhadores, por meio de cursos voltados para o setor industrial. A partir de sua atuação e reflexões com outras escolas de trabalhadores, ligadas ao CET - Conselho de Escolas de Trabalhadores, a partir de 1980, desenvolveu proposta metodológica própria e original, denominada “Criação do Saber”, vigente até os dias atuais.

Ainda na década de 1980, ampliou sua clientela para além do adulto trabalhador, passando a atender também a seus filhos. No final da década de 1990, passou a ofertar cursos ao público feminino. Ao longo de sua existência, a oferta educativa foi sendo alterada de modo a responder às mudanças no processo produtivo, com a implementação de novos cursos voltados ao setor industrial e um voltado para o setor de serviços.

Atualmente o CTC mantém cursos de atividades profissionais, oficinas complementares e oficinas culturais durante o dia para 120 jovens e adolescentes, e à noite, para 120 jovens e adultos trabalhadores. Com vistas à geração de renda, foram instituídas três oficinas de trabalho com atividades nas áreas de eletrônica, gráfica e marcenaria, que oferecem serviços ao setor privado, propiciando o aumento de renda e a manutenção de algumas das atividades do Centro. Estas oficinas, apesar de se relacionarem com empresas, exercitam formas solidárias de gestão e participação, procurando superar a lógica capitalista de produção. Além disso, desenvolve unidades de produção associada que não só geram trabalho, como contribuem na sustentação das atividades do Centro.
Outra mudança expressiva se deu no quadro de docentes, que inicialmente era constituído de militantes engajados nos movimentos sociais de diferentes correntes políticas e passou a ser constituído por ex-educandos do próprio CTC, designados monitores.O CTC tem como objetivo fundamental a formação associada à criação de relações de solidariedade, justiça, companheirismo e cidadania, buscando maior criticidade em relação à dominação capitalista do mundo do trabalho. Sua proposta pedagógica está baseada na participação ativa dos educandos, na construção coletiva de conhecimentos e na formação política. A escola é gerida coletivamente de forma horizontal, cujas normas e regras foram sendo construídas e pactuadas entre educadores e educandos. Rompe com o processo pedagógico tradicional, passando a se basear nas incertezas e no aprender a aprender, por meio de tentativas e erros, construindo e adaptando a sua proposta político-pedagógica.

Essa experiência traz características de uma democracia direta, realizando-se em assembleias, em processos de autoavaliação e em participação na gestão pedagógica e administrativa da instituição. A metodologia utilizada visa a formar cidadãos capazes de reconstruir suas práxis, a partir de novos conhecimentos teóricos e práticos, e a gerir suas vidas, como indivíduos e membros da classe trabalhadora. O CTC busca, assim, fomentar a ampliação de participação na luta dos trabalhadores.

É uma das experiências de formação técnica e política de trabalhadores mais bem documentada. Além dos relatórios produzidos no âmbito do CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores, disponíveis no módulo a ele relativo, possui três publicações próprias: CTC: Criando o saber (Recife, Alternativa Gráfica, 1998); Ivandro da Costa Sales (Org.),CTC: 35 anos criando saber (Recife: Comunigraf, 2002); Bia Costa (Org.), Zerbini: oficina associada que rima trabalho com educação (Rio de Janeiro: Capina, [20--]).

Dispõe-se também de duas dissertações: a) Tereza Jacinta Cavalcanti, Escolas de trabalhadores para trabalhadores: as experiências de formação profissional do Centro de Trabalho e Cultura Recife-PE e do Projeto Construindo o Saber em Limeira (Universidade Estadual de Campinas, 2004); b) Monica dos Santos Spinelli, Que escola é esta? É a escola do trabalhador. Estudo sobre o Centro de Trabalho e Cultura, Recife/PE (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, 2010); e uma tese de doutorado Carolina Valéria de Moura Leão: Educação Popular: ausências e emergências dos novos conhecimentos e sujeitos políticos da economia solidária (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, 2014).

 

* Redigido a partir da introdução da dissertação de Mônica dos Santos Spinelii, Que escola é esta? É a escola do trabalhador. Estudo sobre o Centro de Trabalho e Cultura, Recife/PE, p. 13-14.

Artigo

Confira aqui os artigos disponíveis sobre o CTC. 

 

Criação do Saber Osmar Favero

Criação do Saber 

Osmar Fávero

 

Tese e Dissertação

carolinaleao
Educação Popular e Economia SolidáriaCarolina Moura Leão Educação Popular e Economia Solidária: apêndices e anexos
Carolina Moura Leão
Que escola é essa? É a escola do trabalhador - Monica dos Santos Spinelli

Confira aqui a entrevista de Carolina Moura Leão membro do Centro  de Investigação em Sociologia Económica  e das Organizações (SOCIUS - ISEG/UTL) e da Cooperativa Mó de Vida.

MEB - Movimento de Educação de Base

O MEB foi criado em 1961, pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com referendo da Presidência da Repúbica e contando com apoio financeiro de vários ministérios, principalmente do MEC – Ministério da Educação e Cultura. Seu projeto inicial era desenvolver um programa de “educação de base” por meio de escolas radifônicas, experiência iniciada, nos anos de 1950, de um lado pelo SIRENA – Sistema Radioeducativo Nacional e, de outro, pela Diocese de Natal, inspirada pela experiência de Sutatenza, na Colômbia. Sua área de atuação seria, sobretudo, o meio rural das regiões consideradas “subdesenvolvidas” do Norte, Nordeste Centro-Oeste do país.

Nos primeiros seis anos de sua experiência, considerados seus “anos dourados”, mudou radicalmente o entendimento do conceito de “educação de base”, passando a considerá-la como o fundamental na formação integral da pessoa humana. O diálogo com os outros movimentos de cultura e educação popular no período, inclusive com as primeiras experiências do Sistema Paulo Freire de Alfabetização de Adultos, e o alinhamento ideológico com a AP – Ação Popular redefiniram sua perspectiva política e mudaram seu modo de trabalhar.

Mas a ampla repercussão da apreensão do livro de leitura Viver é lutar, em meados de fevereiro de 1964, expôs a crise que estava latente entre os bispos em cujas dioceses o MEB havia sido implantado. Esta crise foi radicalizada pelo golpe civil-militar de 31 de março de 1964, a partir do qual os financiamentos foram suspensos e o controle, principalmente das transmissões radiofônicas, foi exacerbado pelas forçar militares. Em meados de 1966, discordando das novas orientações da hierarquia católica, boa parte dos quadros dirigentes se demitiu e os maiores sistemas radioeducativos, sobretudo do Nordeste e do Centro-Oeste, encerraram suas atividades.

Alguns sistemas radioeducativos que permaneceram funcionando regrediram à forma inicial de trabalho. No entanto, ainda nos anos de 1960 e na década de 1970, houve vários esforços no sentido de redinamizar o trabalho realizado nos primeiros anos, por exemplo: planejar a ação a ser desenvolvida, sistematizando a realização de pesquisas para conhecimento das áreas a serem trabalhadas; realizando encontros de didática e promovendo a renovação as emissões educativas.

Estão reproduzidos alguns documentos que mostram esses esforços de renovação: o Roteiro para estudo de área, proposto pelo MEB/Nacional, e o relatório Uma experiência radioeducativa, elaborado pelo Grupo de Assessoria e Produções Educativas do MEB/Fortaleza, ambos de 1972. É significativa também a permanência da ideia da “animação popular”, forma específica de trabalho de organização de comunidades em perspectiva bastante distinta do “desenvolvimento de comunidades” tradicional. As experiências eram registradas pelo MEB e, pelo menos em um caso, foi objeto de pesquisa mais ampla, como demonstra o artigo “Potencialidade e limitações de um programa visando provocar participação rural; uma análise comparativa”, de Gilvando Sá Leitão Rios, publicado na Revista Ciência e Cultura v. 27, n. 8, maio 1975, p. 819-838, também aqui reproduzido.

Nos anos de 1980, por sua vez, surgiu nova perspectiva, agora na Amazônia. Por iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, do Centro de Trabalhadores da Amazônia e do Centro de Documentação e Pesquisa da Amazônia, foi criado no Acre o Projeto Seringueiro. O período era marcado, de um lado, pela intensa penetração de empresas capitalistas no campo, com desmatamento e expulsão de trabalhadores rurais, para a implantação da agropecuária. De outro lado, em reação, organizava-se o movimento social dos seringueiros, sob liderança de Chico Mendes, em luta pela posse da terra e defesa do meio ambiente, cuja proposta fundamental era a criação das reservas extrativistas.

Projeto Seringueiro visava a uma ação abrangente nas áreas da educação de saúde e do corporativismo. A alfabetização era fundamental para libertar o seringueiro da exploração dos fazendeiros e dos intermediários, possibilitando-lhes, basicamente, o entendimento do controle dos produtos vendidos e das compras de subsistência. Era também exigência para a formação das cooperativas, instrumento legal de organização dos seringueiros, para o autocontrole da produção e do consumo.

No projeto, a elaboração do material didático de alfabetização ficou a cargo do CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação, entidade precursora da atual Ação Educativa – que retomou, com adaptações, as diretrizes fundamentais da proposta do Sistema de Alfabetização Paulo Freire. Deste, não foram utilizadas as “fichas de cultura” tradicionais, mas partia-se da discussão de situações-problema, retiradas da realidade e introduzidas por uma série de palavras-chave, base para a alfabetização. Em uma metáfora feliz, ao conjunto didático foi dado o nome de Poronga – lamparina usada na cabeça pelos seringueiros quando saem para o trabalho ainda à noite.

O projeto durou três décadas e durante a primeira delas efetivamente visou-se à alfabetização de jovens e adultos e caracterizou-se como verdadeira “alfabetização funcional” para os seringueiros, com horizonte político claramente definido. Nas décadas seguintes, mesmo mantido o elã do movimento, a ação educativa foi progressivamente sendo assumida pelo poder público e a escola dirigida mais às crianças e adolescentes.

Pelo sucesso dessa experiência em Xapuri, o sistema de alfabetização adotado foi assumido pelo MEB para a região do Juruá, ainda nos anos de 1980. Em um primeiro momento, com a mesma assessoria do CEDI, foi produzido o Caderno de Português (edição Juruá). Em um segundo momento, foi produzido o Conjunto Didático O Ribeirinho, composto de Cadernos de Alfabetização, para alunos e monitores, com cartazes para motivação; Cadernos de Matemática, também para alunos e monitores. No entanto, como os princípios adotados na elaboração do programa educativo constam apenas do Caderno de Alfabetização para o Monitor, produzido para o Projeto Seringueiro, estes foram também aqui reproduzidos.

A experiência do Amazonas é singular no MEB, pelo fato de ter efetivamente iniciado após do golpe de 1964, em uma realidade bastante diversa das experiências mais significativas no Nordeste (sobretudo Pernambuco) e Centro-Oeste (especialmente em Goiás). No início assumiu a perspectiva considerada superada das escolas radiofônicas para a alfabetização e a catequese. Mas a própria realidade fez os sistemas locais, embora mantendo as escolas, assumirem tarefas então definidas como de animação popular: organização das comunidades ribeirinhas nos serviços essenciais; reunião em sindicatos dos trabalhadores ribeirinhos, explorados pelos patrões e pelos intermediários; fortalecimento dos aspectos religiosos fundamentais. Durante 40 anos, de 1964 a 2004, os sistemas da Amazônia lutaram por uma forma específica de realizar a ação educativa, inclusive na produção de material didático específico, intermediado de crises e discordâncias com o MEB/Nacional. Reproduzimos, neste documentário, o conjunto didático O Ribeirinho, um artigo, uma monografia e a entrevista de Protásio Lopes Pessoa, primeiro coordenador do MEB/Tefé, o sistema local mais desenvolvido na Amazônia.

Por outro lado, superarando as crises de financiamento e identidade, nos anos de 2000, o MEB teve um novo alento, em primeiro lugar na atuação na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, dentro do Programa Fome Zero do governo estadual; em segundo, tentando dar nova orientação aos trabalhos em desenvolvimento no Maranhão, Piauí, Ceará, Amazonas, Roraima e mesmo no Distrito Federal. Para tanto, foram produzidas diversas versões do Conjunto Didático Saber,Viver e Lutar, todas com o mesma proposta didático-pedagógica, adaptada na linguagem e sobretudo nas ilustrações fotográficas para cada um desses estados. Embora pretenda seguir, nesses materiais, os princípios da pedagogia de Paulo Freire, ela não aparece bem assimilada, como indica a análise feita por Elisa Motta, em MEB: histórias e trajetórias, também aqui reproduzida.

CEDI - Centro Ecumênico de Documentação e Informação

O CEDI nasceu da experiência do CEI – Centro Evangélico de Informação, criado em 1964/1965 por militantes ligados à Confederação Evangélica do Brasil, afastados de suas igrejas após o golpe civil-militar de 1964. Em 1968, com a incorporação de militantes católicos, o CEI passou a denominar-se Centro Ecumênico de Informação e, em 1974, institucionalizou-se como CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação. A sede inicial foi no Rio de Janeiro, mas a ampliação de suas atividades deu origem a uma subsede em São Paulo.
Nos primeiros anos, o CEI publicava um Boletim Informativo, no início mimeografado e depois impresso, divulgando notícias com uma postura crítica em relação à conjuntura política brasileira e à responsabilidade social das igrejas, relevando um ecumenismo comprometido com a justiça social. Ainda como CEI, destaca-se a publicação de dois suplementos sobre educação popular, em 1977 e 1978, com textos teóricos de fundamental importância, produzidos pela equipe do Nova – Pesquisa e Avaliação em Educação.
Esta iniciativa continuou com a publicação dos Cadernos CEDI e da Revista Tempo e Presença, destinada aos agentes pastorais e da educação popular, durante muitos anos o melhor periódico ecumênico da América Latina. Estão reproduzidos, nesse documentário, alguns exemplares destes dois veículos, nos quais são abordados temas relativos à educação e à educação popular. Reproduzimos também, a título de exemplo, o volume do Aconteceu Especial 19 – Educação no Brasil 1987-1988, outra publicação do CEDI. Sistematicamente, eram retiradas notícias de jornais de todo o país, destacando as temáticas mais importantes e apresentando análises sobre elas, redigidas por especialistas. No período dos governos autoritários, a disseminação de informações e o debate sobre alguns temas eram fundamentais e, neste ponto, o CEDI cumpriu papel relevante.
Tanto o CEI quanto o CEDI mantiveram forte articulação com outros organismos brasileiros, latino-americanos e mundiais, entre eles: ISER – Instituto Superior de Estudos da Religião, no Rio de Janeiro; CESE – Coordenadoria de Ecumênica de Serviço, em Salvador, CEB – Centro de Estudos Bíblicos, no Rio Grande do Sul; CESEEP – Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular em São Paulo; e sobretudo com o ISAL – Igreja e Sociedade na América Latina, movimento financiado pelo Conselho Mundial de Igrejas. Essa dimensão latino-americana foi responsável, nos anos de 1970 e 1980, pela divulgação em vários países, principalmente no Cone-Sul, dos princípios da educação popular e da pedagogia de Paulo Freire.
Em 1994, o CEDI desdobrou-se em quatro outras instituições, dando autonomia aos seus departamentos fundamentais: Ação Educativa, ISA – Instituto Sócio- Ambiental, NETS - Núcleo de Estudos e Trabalho e Sociedade, sediados em São Paulo, e Koinomia, no Rio de Rio de Janeiro. Dos quatro, apenas o NETS teve vida breve; os demais continuam ativos até os dias atuais.
Fontes: Entrevista “Histórias de vidas entrelaçadas – trajetória Jether, presença de Lucília”, em José Ricardo Ramalho (Org.). Uma presença no tempo; a vida de Jether Ramalho. São Leopoldo, Oikos Ed., 2010, principalmente pág. 38-49.
Depoimento de Carlos Rodrigues Brandão, “ Entre o Cerrado e os Andes”. In: José Ricardo Ramalho (Org), Op. cit., pág. 97-107.

Depoimento de Beatriz Costa “Jether Ramalho: companheiro de muitas andanças até hoje”. In: José Ricardo Ramalho (Org.), Op. cit., pág. 109-113.
Marco Antônio Perruso. Em busca do “novo”; intelectuais brasileiros e movimentos populares nos anos 1970/1980. Tese (Doutorado em Antropologia e Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008, em particular pág. 219-249.

 

Didáticos

O Conjunto Didático Poronga (Caderno de Português, Caderno de Matemática e Caderno do Monitor) foi elaborado pelo CEDI, em colaboração como CEDOP – Centro de Documentação e Pesquisa da Amazônia, em 1982, para a alfabetização de seringueiros da região de Xapuri, no Acre, como apoio ao movimento de instalação de cooperativas e luta pela posse da terra, promovido pelo sindicato local.

Esta iniciativa ocorreu no momento de retomada da produção do material didático para a educação popular, interrompida pelo golpe civil-militar de 1964 e ofuscada pela produção massiva do material didático e paradidático feito pelo MOBRAL. Como metodologia, retomou os princípios do Sistema de Alfabetização Paulo Freire, adaptando-os às necessidades e aos interesses dos alfabetizandos e ao contexto de abertura política, com forte expressão dos movimentos sociais populares e dos sindicatos.

Logo em seguida, em 1983, o CEDI aplicou a mesma metodologia na produção do Conjunto Didático O Ribeirinho, para uso do MEB na região do médio Tocantins, no estado do Amazonas. No mesmo ano, promoveu “Um debate sobre a alfabetização de adultos: metodologia e material didático”, reunindo representantes de várias experiências de alfabetização de jovens e adultos, inclusive de Xapuri. Tanto o material do Conjunto Didático O Ribeirinho como relatório do desse debate estão reproduzidos neste documentário.

Caderno de Português Caderno de Matemática Caderno do Monitor

 

NOVA – Pesquisa, Avaliação e Assessoria

Um grupo de profissionais, conhecedores de experiências de mobilização popular, realizadas no período, sobretudo sob a cobertura das Igrejas católica e protestantes, reuniu-se, em novembro de 1972, para estudar as possibilidades da coordenação dessas experiências em nível nacional.

Para tanto, foi realizado um seminário em uma chácara de propriedade da Igreja Metodista, em São Paulo. Dele participaram pouco mais de 20 pessoas, cuidadosamente selecionadas, em função do momento extremamente autoritário em que se vivia. A decisão dessa reunião foi criar uma “agência”¹ que passasse a reunir pessoas interessadas em discutir a dinâmica existente. Falou-se também em pesquisar o que estava ocorrendo, em termos de mobilização popular e, se possível, assessorar as experiências.

Criou-se então o NOVA – Pesquisa, Avaliação e Assessoria, cuja equipe inicial foi constituída por Aída Bezerra, Beatriz Costa, Letícia Cotrim, Evandro Sales, à qual se incorporou, logo depois, Jorge Muñoz e, mais tarde, Pedro Garcia e Regina Rocha. Os primeiros trabalhos de assessoria foram realizados sobretudo em dioceses do Nordeste (Mossoró, Caicó...), contando com financiamentos obtidos junto à Charitas Internacional e a organismos de apoio católicos da Holanda e do Canadá.²

O acompanhamento dos grupos de base durava de um a dois anos, com visitas sistemáticas de dois ou três dias, normalmente a cada dois meses. Fazia parte da rotina do Nova seminários mensais de estudos e avaliação da prática realizada.

Após dois anos acumulando experiências e sistematizando assessorias e com vista a divulgar os estudos realizados nos seminários internos, começou-se a produzir e publicar textos para atender às necessidades dos “agentes”.³ Os dois primeiros cadernos, intitulados Educação Popular I e II, foram editados pelo CEI - Centro Ecumênico de Informação, que tinha objetivos semelhantes aos do NOVA e já contava com uma linha de publicações de alcance nacional. Constituem-se nas primeiras produções sobre educação popular, abordando inovadoramente e de maneira competente temas fundamentais, como a metodologia de avaliação das experiências, a relação entre saber e poder etc.

A partir de 1981, o NOVA passou a publicar a coleção Cadernos de Educação Popular, muitos deles contendo depoimentos ou resultados de seminários amplos realizados. Ao todo foram publicados 30 números desses Cadernos, 22 deles em coedição com a Vozes de Petrópolis, até 1993. Da mesma forma que os trabalhos de assessoria, também os seminários e os Cadernos contavam com financiamento internacional.

Além dos Cadernos, o NOVA produzia anualmente relatórios dirigidos às organizações financiadoras que contêm informações importantes sobre os projetos realiados e interessantes reflexões sobre temas motivados pela prática realizada.

A partir de meados dos anos de 1990, diminuiu radicalmente o financiamento internacional dirigido às “agências” que atuavam na América Latina e no Brasil, em particular. A crise do financiamento e certo “cansaço” das assessorias aos movimentos de base provocaram o desligamento de várias pessoas do NOVA, que criaram ou passaram a reforçar outras “agências: no primeiro caso, SAPÉ – Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação, e, no segundo, CAPINA – Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa.

Nos últimos anos, o NOVA se valeu de convênios com prefeituras, trabalhando com a formação continuada de professores, ou com o apoio de empresas do interior do estado do Rio de Janeiro, dedicou-se trabalhos educativos e culturais com jovens. Pelas dificuldades encontradas, prevê-se o fechamento da agência em futuro próximo.

Nesse período mais recente, sob a coordenação de Bernard Von der Weid e contando com financiamento de várias agências internacionais, durante três anos, desenvolveu o projeto “Expressão e educação popular: a linguagem musical”. Dele resultaram três CDs, editados na série Cultura Popular: 1. Movimento dos Compositores da Baixada Fluminense, movimento formado por trabalhadores que ganham a vida como pintores,metalúrgicos, gráficos etc. e tem na música sua mais forte forma de expressão; 2. Da quixabeira pro berço do Rio, contendo música recolhidas em comunidades de trabalhadores rurais do interior da Bahia; 3. Por cima das aroeiras, apresentando músicas populares do Vale do Jequitinhonha.

______________________________________________________________

¹ Não era utilizada, na época, a designação “organizações não governamentais”.
² Ver Sérgio Haddad, “O papel das agências de cooperação europeia no apoio ao processo de educação popular no Brasil”. Trabalho apresentando no GT Educação de Jovens e Adultos, durante a 36ª Reunião Anual da ANPEd, realizada em Goiânia, em set./out. de 2013. 
³ Como eram chamadas as pessoas que tinham contato direto com as bases.

 

 

Áudios

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Movimento de Compositores da Baixada Fluminense Da Quixabeira pro berço do Rio Por cima das aroeiras cultura popular
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URPLAN – Instituto de Planejamento Regional e Urbano *

URPLAN – Instituto de Planejamento Regional e Urbano *

O URPLAN foi criado na metade dos anos de 1970, por professores da PUC/SP e da USP e outros intelectuais que haviam pertencido a movimentos da Ação Católica. Dele faziam parte, entre outros: Luís Eduardo Wanderley, Candido Malta Campos Filho, Pedro Jacobi, Maria da Glória Gohn, Sílvio Caccia Brava. O URPLAN era ligado à PUC/SP, mas mantinha grande autonomia em relação a ela.

Seus objetivos eram a pesquisa voltada para a problemática das políticas públicas e a assessoria aos movimentos populares. É citado como importante seu “Estudo de alternativas de viabilização das experiências de construção de moradias econômicas para a população com renda familiar compreendida em 0 e 5 salários mínimos, mediante a utilização dos sistemas de autoajuda e ajuda mútua”. A assessoria se efetivava, sobretudo, por meio de cursos de extensão oferecidos a profissionais de secretarias do estado e da prefeitura e a lideranças comunitárias, sobre os temas: “Desenvolvimento urbano e mudança social”, “Movimentos sociais urbanos e urbanização”, “Planejamento urbano”; “Participação popular” e outros.

O URPLAN desdobrou-se no GEP – Grupo de Educação Popular, do qual faziam parte Hamilton Faria, Sílvio Caccia Brava, Leila Blass e Sílvia Manfredi, tendo como atividades principais a pesquisa participativa e a assessoria a grupos operários. Sua produção concentra-se nos cinco números da série Cadernos do Trabalhador, editada nos anos de 1980: 1. “41 dias de resistência e luta (uma análise da greve por quem dela participou)”; 2. “Forjando o aço, forjando a luta (Grupo de Fábrica)”; 3. “A força que nasce de nós (a luta nos bairros vista por quem dela participa)”; 4. “Nas raízes da democracia operária (a história da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo)”; 5. “A repressão nas fábricas: cala a boca, peão”.

Reproduzimos nesse documentário quatro dos cadernos citados, por serem os únicos que temos disponíveis. Por abordar temática próxima, reproduzimos também o caderno “Comissão de Fábrica: uma forma de organização operária”, produzido pela Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo com a colaboração da FASE/ São Paulo e publicado pela Editora Vozes, 1981.

* Esta apresentação está baseada na tese de doutorado de Marco Antonio Perruso, Em busca do “novo”: intelectuais brasileiros e movimentos populares nos anos 1970/1980, defendida em março de 2008 no Programa de Pós-Graduação de Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, p. 140-142.

 

   
41 dias de resistência e luta   Forjando o aço forjando a luta   A força que nasce de nós
     
  Nas raízes da democracia operária   Comissão de fábrica  

 

 

CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae*

CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae*

O CEPIS foi criado em 1977, por ocasião da reestruturação do Instituto Sedes Sapientae, instituição das cônegas de Santo Agostinho, atuante em São Paulo desde 1933. O grupo inicial era ligado à Igreja Católica e aos movimentos populares da cidade de São Paulo.

De acordo com Ozani Martiniano de Souza, o primeiro período de atuação do CEPIS, entre 1977 e 1985, coincide com o surgimento dos “novos” movimentos sociais, caracterizado pelas greves dos operários das grandes fábricas e pelos movimentos de bairro. É conhecido o apoio da Igreja Católica a esses movimentos, na abertura proporcionada pela Teologia da Libertação. O CEPIS se definiu, então, como um centro de assessoria militante junto aos grupos populares que buscavam ou necessitavam ampliar seu potencial organizativo para se contrapor à dominação e aos desacertos dos sucessivos governos autoritários, tendo priorizado o atendimento à classe operária, entendida em sentido amplo. E, como os vários outros centros de educação popular criados no mesmo período, valeu-se do apoio financeiro de agências internacionais ligadas às Igrejas Católicas da Europa e do Canadá (Cristhian Aid, Misereor, ICCO – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao Desenvolvimento, Pão para o Mundo).

Sua atuação inicial se deu na formação de lideranças e na educação política, por intermédio das diversas pastorais, especialmente a operária e da juventude, além das Comunidades Eclesiais de Base. Pelo engajamento de alguns participantes da equipe inicial, houve forte atuação em amplo programa de saúde popular, na linha da medicina comunitária. Os relatórios registram muitas solicitações não só na região metropolitana de São Paulo, como em vários estados do país, para a assessoria de movimentos urbanos e rurais. Registram também a participação junto a movimentos latino-americanos, em especial na Nicarágua e no Peru.

A criação do Partido dos Trabalhadores, em 1981, a criação da CUT – Central Única dos Trabalhadores e da ANANPOS – Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais, e as primeiras eleições para o cargo de governador dos estados em 1982, nas quais o PMDB saiu como o grande vencedor, colocou para o CEPIS novas tarefas em três frentes: o movimento popular, instrumentalizando os grupos para as reivindicações frente aos novos governos; o movimento sindical, formando dirigentes; e as pastorais populares, contribuindo para a reflexão sistemática da prática pastoral. Deu origem também a intenso trabalho de alfabetização em vários bairros, em cooperação com a prefeitura de Luiza Erundina e da secretaria de educação de Paulo Freire.

O período 1986/1995 caracterizou-se como de crescimento e consolidação do CEPIS. A conjuntura de redemocratização do país, os debates da campanha das Diretas-Já, o projeto da Nova República e a realização da Constituinte, em 1987-198, provocaram intensa mobilização, exigindo os movimentos populares um avanço na qualidade da atuação, no bojo da crise econômica que gerava acentuada inflação e frente à cooptação operada pelos setores políticos hegemônicos. O CEPIS procurou, no período, desenvolver maior número de atividades de autoformação, elaborar mais subsídios e sistematizar sua própria experiência, por meio de encontros de capacitação interna. Aparece neste contexto o dilema: trabalho de base vs. trabalho de massa, encaminhando reflexões sobre: que tipos de contribuição seriam mais relevantes e convenientes nos próximos anos? Quais movimentos deveriam ter prioridade na programação do Centro?

Embora a conjuntura política tenha colocado os mesmos problemas para os vários centros (ou agências) de educação popular existentes, as importantes discussões sobre o papel da assessoria, a relação dos centros com instâncias mais amplas de formação – por exemplo, como o Instituto Cajamar, criado em 1986 –, e também com os governos democráticos eleitos para as instâncias municipais, foram bastante trabalhadas pelo CEPIS, não sem divergências internas. Em particular, a relação com os organismos latino-americanos alimentaram a perspectiva fundamental da educação popular: seu norte político. Tanto quanto nos anos áureos dos movimentos de cultura e educação popular do início dos anos de 1960, como nos diz Ozani Martiniano de Souza, a educação popular era entendida um processo educativo que, a partir da realidade existente e da reflexão teórica sobre ela, permitisse a análise de tendências e alternativas para a construção de um projeto político-popular transformador.

No entanto, seguindo a periodização proposta por esta autora, o terceiro período por ela estudado, 1986/1998, é de crise, sob a influência do avanço do neoliberalismo, decorrente da frustração provocada pela falência do socialismo no Leste Europeu e pelo fracasso da revolução da Nicarágua, e da própria retração da Igreja. Além disso, houve uma drástica redução do financiamento externo, que dirigiu sua prioridade a outras áreas. Nesse contexto, muitos movimentos sociais, sobretudo urbanos, apresentaram menor dinamismo e foram dando lugar a novas organizações: de negros, de mulheres, ecológicos etc.

Essas mudanças provocaram processos de autoavaliação do CEPIS, em busca de nova política formativa que atendesse aos novos sujeitos sociais emergentes com a abordagem de novos temas: raça, gênero, ecologia, ética, subjetividade etc., que fundamentassem as novas formas de mobilização e organização. Foi definida como fundamental a retomada dos trabalhos de base, unificando as ações no meio urbano e no meio rural e dando origem à criação de um novo projeto, designado Formação Básica Multiplicadora.

Como o CEPIS existe até hoje, a documentação por ele produzida pode ser obtida diretamente na Biblioteca Madre Cristina ou na Secretaria do Centro.

* Esta apresentação está baseada na dissertação de mestrado de Ozani Martiniano de Souza, O Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae; origem, consolidação e crise contemporânea, defendida em 2000, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

 

VEREDA – Centro de Estudos em Educação

Vereda – Centro de Estudos em Educação

O VEREDA foi criado em 1982, por um grupo de educadores reunidos em torno do educador Paulo Freire, quando de sua volta ao Brasil. Embora atento à educação como um todo, a presença de Paulo Freire foi decisiva para que a Educação de Jovens e Adultos ganhasse um lugar de destaque na instituição. Suas primeiras ações estiveram ligadas à educação popular e envolveram grupos que atuavam na alfabetização de jovens e adultos, no trabalho com mulheres e outras práticas sociais na maioria ligadas às Comunidades Eclesiais de Base. Com a democratização, o VEREDA passou também a assessorar a educação de jovens e adultos, junto a movimentos sociais e a algumas secretarias da educação, prioritariamente nas ações de formação.

Entre várias publicações, em colaboração com o MEB, produziu a série “Alfabetizando em Parceria” com os fascículos Poetizando, Confabulando e Historiando. Posteriormente, Vera Barreto, coordenadora do VEREDA, coordenou a produção da série “Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos”, publicada pela Secad/MEC em 2006.

Almanaques

Almanaques
 
Almanaque n.1  

Almanaque n.3
 

 

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
 
O MST dedica atenção especial à educação de crianças e dos jovens e adultos, assim como à formação política dos dirigentes e militantes em geral. A luta pela educação acompanha a luta pela terra e o compromisso do movimento pela educação está organicamente ligado à reconstrução da sociedade brasileira. Desde sua criação em 1984, mas sobretudo nos anos de 1990, o MST promoveu uma sequência de eventos: seminários e encontros nacionais de educadores para a reforma agrária, assim como encontros nacionais e regionais de educadores de jovens e adultos. Ao mesmo tempo, apoiado por convênios e em pareceria com instituições de ensino, criou cursos de Magistério (normal de nível médio) e realizou cursos de preparação de monitores para alfabetização em projetos de assentamento – uma das primeiras necessidades que se impunham. Em 1998, o apoio do Ministério do Desenvolvimento Rural, através do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, possibilitou a criação do PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, viabilizando a implantação de cursos de nível superior, realizados em parceria com universidades. A experiência mais conhecida do PRONERA é a Pedagogia da Terra, já com várias turmas diplomadas.

 Ao mesmo tempo em que ganhava terreno e apoio para estender e diversificar suas ações, o MST progressivamente ampliava sua compreensão da alfabetização e sua continuidade no ensino fundamental, como direito dos jovens e adultos não escolarizados, e aprimorava a compreensão relativa à educação. Em consequência, cuidava da elaboração e da publicação de textos normativos sobre educação, educação de jovens e adultos e a relação da educação com o projeto político do movimento.

No Caderno de Educação n. 11 – Educação de Jovens e Adultos: sempre é tempo de aprender, é apresentada uma síntese dos momentos mais significativos da luta pela terra e, paralelamente, feito um balanço da caminhada na conceituação da ação educativa. Essa conceituação é apresentada nos seguintes termos:
 
A. Convicções fundamentais
Todas as pessoas têm direito de aprender.
Todas as pessoas têm direito à escolarização.
Sem-terra tem o dever de se alfabetizar.
Sempre é tempo de aprender.
Todas as pessoas têm saberes e saberes diferentes.
A alfabetização faz parte da educação popular do campo.
A educação está vinculada à formação.
A educação de jovens e adultos é maior que a alfabetização e não precisa acontecer só na escola.
Cada sociedade tem suas linguagens de sociabilidade.
Somos educadores e educadoras do povo.

B. Princípios metodológicos
Respeitar o jeito de aprender de cada tempo da vida.
Partir da necessidade: a pessoa se interessa em aprender quando necessita.
Educar as pessoas para se apropriar da história e se tornar sujeitos.
Relacionar os processos de educação de jovens e adultos com os processos de formação do MST.
Conhecer os sujeitos em sua realidade e a realidade social onde estão inseridos.
Trabalhar com vivências geradoras.
Consolidar condutas e posturas e diversificar didáticas.
Organizar o ambiente alfabetizador.
Produzir um ambiente educativo.

C. Elementos gerais de pedagogia
Educação do movimento popular e não para o movimento popular.
A mística como elemento de formação humana.
Sem emoção não há aprendizado.
Não se aprende fora da cultura.
Conhecimento novo não se constrói sem um engate num conhecimento anterior.

D. Elementos operacionais
Organizar as turmas levando em conta a socialização e a heterogeneidade entre os educandos.
Organizar internamente as turmas.
Fazer diagnóstico permanente.
Garantir o planejamento das atividades.
Registrar o processo educativo.
Fazer uma avaliação permanente.
Garantir a formação permanente das educadoras e dos educadores.
Ter método de acompanhamento do processo educativo.

É bastante grande o número de publicações do MST, editadas pelo Coletivo Nacional de Educação e pelo ITERRA – Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa em Reforma Agrária, organizadas em diferentes séries de cadernos:
Cadernos de Educação
Cadernos de Formação
Cadernos de Saúde
Cadernos do Iterra
Cadernos de Cooperação Agrícola
Boa parte do material publicado se destina aos formadores, como documentos de orientação metodológica. Vários textos relativos à educação dizem respeito à escola de ensino fundamental para crianças e à educação de jovens e adultos, com algumas publicações de caráter explicitamente didático, como a série “Pra soletrar a liberdade” e a coleção “Fazendo História”, assim como publicações produzidas pelo Coletivo Nacional de Mulheres.

Complementarmente, têm sido utilizados pelo MST os livros da coleção “Saberes da Terra”, publicados pelo MEC/SECADI para o PROJOVEM – Programa Nacional de Inclusão de Jovens, na versão destinada ao campo.

Por sua vez, a educação do MST é seguramente o tema que dispõe de maior de número de estudos realizados sobre ele, na forma de teses e dissertações, e de muitos livros dedicados a sua experiência educativa, entre eles o pioneiro Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais que escola, de Roseli Salete Caldart.
 

SAPÉ – Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação*

SAPÉ – Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação*

O SAPÉ foi criado em 1983/1984 por Aída Bezerra e Rute Rios, ambas com experiência em educação popular, desde o MEB – Movimento de Educação de Base, nos anos de 1960. Mais recentemente, Aída Bezerra havia sido uma das fundadoras do Nova, com experiência em assessoria a movimentos de base durante dez anos, do qual se desligou pelo interesse em dedicar-se exclusivamente à pesquisa. Rute Rios, por sua vez, havia participado da equipe que formulou e implantou o PEJ – Programa de Educação Juvenil, no final dos anos de 1980, no município do Rio de Janeiro. A elas reuniram-se, progressivamente, Cleide Leitão, Renato Pontes, Alexandre Aguiar e Maria do Socorro Calhau.

A proposta inicial do Sapé era buscar alternativas no campo da educação popular, especificamente na formação de educadores de jovens e adultos, “na relação fazer e pensar pautada em um entendimento político e em uma dinâmica que valorizam a produção coletiva e o estabelecimento de relações mais horizontais entre educadores e educadoras, nas quais a participação dos envolvidos e as redes de solidariedade entre eles pudessem ser exercidas nas práticas cotidianas” (Cleide Leitão, p. 10). Seu primeiro trabalho foi uma pesquisa participante, com enfoque antropológico, em uma classe experimental noturna de alfabetização de adultos, na Escola Senador Correia, situada na Praça José de Alencar, no Rio de Janeiro: “Confronto de Sistemas de Conhecimento na Educação Popular”¹.

Dessa pesquisa resultaram dois produtos: a) a produção do Almanaque Aluá, uma retomada original de um material didático tradicional, voltado par a educação de jovens e adultos, cujas três edições estão aqui disponibilizadas, assim como informações sobre o processo de implementação; b) a organização dos Coletivos de Formação, realizado com educadores que trabalhavam educadores populares, muitos com alfabetização de jovens e adultos, vinculados a instituições diversas, em uma rede estabelecida nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco².

Esses Coletivos “se constituíram enquanto espaços de mediação entre as práticas e a necessidade de refletir e teorizar sobre a ação" (Leitão, p. 13), na perspectiva da autoformação, “entendida como a possibilidade de o educador intervir em sua formação de maneira sistemática, a partir de seu desejo de qualificação, da consideração de suas demandas específicas e de sua indispensável participação e comprometimento” (idem, p. 12).

A rede formada deu origem a três instrumentos: um Boletim – informativo trimestral de circulação ampla entre os educadores de jovens e adultos participantes; um Grupo de Estudos e Pesquisa - GREPE, com a função de aprofundar e subsidiar as discussões cocorridas nos seminários; e a Rede BAM - Banco de Ajuda Mútua, que tinha o objetivo de incentivar o registro da prática pedagógica e sua sistematização pelas/os educadoras/es, socializando-os através dos Cadernos BAM e de um banco de dados informatizado (idem, p. 15-16). Os Almanaques e os Cadernos BAM publicados estão aqui reproduzidos.

 

* Esta apresentação está baseada na entrevista realizada com Aída Bezerra e Renato Pontes, em abril de 2013, e na dissertação de mestrado de Cleide Figueiredo Leitão, A circularidade de saberes e o exercício de poder na experiência dos coletivos de autoformação, defendida na UERJ em dezembro 2002, especialmente Introdução, p. 9-17.

¹ Parte dessa pesquisa, assessorada pela antropóloga Lygia Segalla, está relatada no artigo "A Negociação", de Aída Bezerra e Rute Rios, reproduzido neste documentário.

² A dissertação de Cleide Figueiredo Leitão, citada e aqui reproduzida, historia e analisa essa experiência. Reproduziu-se também o artigo “Buscando caminhos nos processos de formação/ autoformação”, da mesma autora, derivado da dissertação referida.

BAM

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BAM 1996   BAM 1997   BAM 1999
     
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CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores*

CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores*

Primeiros tempos

As Escolas de Trabalhadores tiveram seu início ainda no período da ditadura militar implantada no país em 1964. As iniciativas mais antigas datam do final dos anos de 1960 e meados dos anos de 1970. Surgiram no campo da resistência à ditadura, como uma forma concreta de ação política na educação dos trabalhadores.

Eram iniciativas de operários que assumiam a tarefa da formação técnica e política dos trabalhadores, pois não concordavam que a educação profissional no Brasil fosse monopólio dos empresários. Sua postura crítica visava sobretudo o SENAI, órgão sustentado com recursos públicos, mas administrado privadamente e que se servia de uma pedagogia reconhecidamente individualista, com disciplina militar e autoritária, voltada para o adestramento taylorista dos operários.

Em 1979, realizou-se no Rio de Janeiro um primeiro seminário reunindo perto de quarenta dessas iniciativas de educação operária. Elas atuavam em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife, nos campos da serralheria, solda, mecânica industrial, tornearia, ajustagem, calderaria, estruturas metálicas, instalações elétricas residenciais e industriais, comandos elétricos, desenho técnico, entre outros.

Este primeiro encontro inaugurou uma série de seminários anuais, dando início a um longo processo de discussão. Todos os grupos concordavam em aliar a formação profissional à formação política. Em que sentido? Uma questão se colocou no centro dos debates: seria válido recorrer ao apelo da formação profissional como um chamariz que servisse apenas de trampolim para a conscientização política? Será que os conteúdos técnicos e os métodos e processos de aprendizagem deveriam ser considerados como neutros? Ou o próprio conteúdo técnico e o processo de aprendizagem não deveriam, também eles, ser encarados politicamente, como uma das matérias primas dessa formação política?

Logo após o segundo seminário realizado em 1980, em Belo Horizonte, alguns participantes se reuniram para aprofundar esse debate que foi publicado com o nome “A questão política da aprendizagem profissional” (Caderno CEDI n°6, 1980).

Mantendo um ritmo de seminários anuais, as discussões puderam acompanhar a grande crise que marcou a década de 1980 quando, após o período do “milagre brasileiro”, as mudanças na produção industrial e o aumento do desemprego  trouxeram novas dificuldades e preocupações.

  • Qual a situação e as perspectivas da indústria nacional e quais os reflexos dessa situação para os cursos profissionais?
  • Como vai a luta dos trabalhadores, não apenas dentro, mas também fora das fábricas?
    • Há, por parte do sistema, alguma estratégia para o que se vem chamando de "economia informal"?
    • Será que o que hoje se pede do profissional vai ser o mesmo que se pedirá amanhã?
    • Não há profissões que desaparecem e novas que surgem? Como anda o processo da automação?

Ainda:

  • Qual o papel das escolas profissionais operárias diante dessa crise?
  • Como pensar a sobrevivência dessas escolas?

E muitas eram as questões levadas dos seminários para se refletir em cada escola:

  • a inserção dos cursos nas comunidades e nas formas de organização popular locais;
  • a necessidade da reciclagem profissional;
  • o relacionamento de trabalhadores urbanos com trabalhadores do campo, em especial aqueles da pequena agricultura familiar;
  • as novas formas de produção associada nas zonas urbanas, a exemplo do que os agricultores vinham experimentando na roça;
  • até que ponto, nas escolas operárias, valeria a pena trabalhar com profissões que só possibilitariam trabalhos como biscateiros?

Em 1985, essa sistemática de encontros anuais foi interrompida, mas as trocas havidas até então possibilitaram que as escolas desenvolvessem um processo de educação entre trabalhadores cujas características estão vivas até hoje.

  • Nas escolas de trabalhadores, o que se busca fortalecer não é o modelo de pedagogia oferecido pelas classes dominantes: individualista, autoritária, bancária, hierarquizante, e que reduz o campo de conhecimento do trabalhador.
  • Mas, sim, um processo de educação que é construído entre companheiros, de modo horizontal, participativo, valorizando a experiência de vida e de trabalho que cada um traz e a contribuição de cada um, para, a partir daí, se construir o caminho para um conhecimento sempre mais amplo.
  • Discute-se muito a dimensão política da técnica e da formação profissional.
  • Aprofunda-se o debate sobre a não neutralidade da técnica do ponto de vista da exploração do trabalhador, da negação do conhecimento, do esgotamento do planeta etc.
  • Propõe-se a construção conjunta de um processo pedagógico que marque a educação entre trabalhadores pelas seguintes características: a criação conjunta do saber; a partir da experiência de cada um; por meio de um método de perguntação/formulação do pensamento e decifração em comum; e com a participação pessoal e direta de todos.
  • Experimentam-se programas de solidariedade concreta, reunindo trabalhadores urbanos e rurais, e que se relacionam por intermédio dos frutos de seus próprios trabalhos.
  • E  busca-se o resgate da história do trabalho e das técnicas, das lutas dos trabalhadores e das sociedades.

A fundação do Conselho de Escolas Operárias
Após esse primeiro ciclo, as discussões mais sistemáticas foram retomadas em 1989, por algumas escolas que conseguiram ultrapassar aqueles tempos difíceis e se consolidaram enquanto escolas operárias. Foram elas:

  • AST – Ação Social Técnica (Belo Horizonte/MG)
  • CADTS – Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento Técnico Social (São João de Meriti/RJ)     
  • CAT – Centro de Aperfeiçoamento do Trabalhador (Betim/MG)
  • CTC – Centro de Trabalho e Cultura (Recife/PE)
  • Escola Nova Piratininga (São Paulo/SP).

Essas escolas é que, em um seminário em 1989, vão formar o Conselho de Escolas Operárias.
Este Conselho se definia como “reunião de escolas voltadas à construção de alternativas de Educação da Classe Trabalhadora” que, juntas, elaboraram o Projeto de Educação Operária.
A CAPINA – Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa foi a instituição escolhida para secretariar o Conselho.

Novos tempos
Sobre as proposições desse projeto, o Conselho se consolida e se expande durante os anos de 1990. E novas escolas vêm se juntar a ele:

  • Escola José César de Mesquita,  dos Metalúrgicos de Porto Alegre/RS
  • Colégio Graham Bell,  dos Telefônicos do Rio de Janeiro/RJ
  • Colégio Metalúrgico,  dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro/RJ
  • CPA – Centro de Profissionalização de Adolescentes, de São Paulo/SP
  • Centro Comunitário São Paulo Apóstolo, de São Paulo/SP
  • Centro de Capacitação Profissional Henry Ford, de São Paulo/SP
  • CEDISP – Centro de Educação e Democratização da Informática de São Paulo/SP
  • Associação dos Trapeiros de Emaús, de  Recife/PE.

Retoma-se então a sistemática dos seminários anuais, enfrentando-se os desafios gerados pela guinada das políticas neoliberais implementadas nos governos de Collor e FHC, na década de 1990.
Nesse período, a drástica redução dos postos de trabalho decorrente das mudanças tecnológicas ou das novas modalidades de organização do trabalho criou grande perplexidade entre os trabalhadores, acossados pelo desemprego ou pela ameaça de serem despedidos.
Foi quando, em 1993, o Conselho se debruçou sobre o tema “O desenvolvimento tecnológico, suas tendências atuais e decorrências para os trabalhadores”, iniciando um ciclo de discussões abordando os seguintes temas principais:

  • o papel da ciência e da tecnologia
  • a questão do trabalho na sociedade atual
  • a ampliação da exclusão social
  • a educação dos cidadãos trabalhadores

O Relatório do Seminário de 1993 e seus anexos: Desenvolvimento tecnológico e tendências atuais (coletânea de textos), e Atuais tendências do capitalismo e suas decorrências para os trabalhadores (transparências), de Rogério Valle, expressam o grau de profundidade a que chegaram os debates.
Essas discussões prosseguiram nos seminários subsequentes, até que, em 1995, o Conselho definiu sua  Plataforma de Educação para Cidadãos Trabalhadores
O texto da Plataforma resume as principais posições do Conselho até aquela data e inclui, como proposta, um desenho de Centros Públicos de Educação de Cidadãos Trabalhadores.
Não é pouco significativo que, a partir de 1995, o Conselho de Escolas Operárias passe a se chamar CET .

Momento atual (2009)
Além dos encontros anuais, nos primeiros anos do novo século as escolas do CET se reuniram em oficinas para discussão e troca de experiências sobre seu trabalho em sala de aula. A sistematização dessas discussões resultou no documento Uma pedagogia para educação de cidadãos trabalhadores que resume a prática pedagógica das escolas. 
Nos seminários anuais a partir de 2002, os temas em debate têm se referido, sobretudo, a:

  • Economia solidária
  • Políticas públicas de educação, formação profissional e trabalho
  • Desafios das juventudes nos tempos contemporâneos

Esses encontros anuais das escolas, além de proporcionarem um fecundo exercício da troca de experiências, de conhecimentos e de práticas, renovam a busca de aprofundar, juntos, a compreensão do mundo atual e dos novos temas e conceitos que se apresentam no campo da educação de cidadãos trabalhadores. Fortalecendo as relações de reciprocidade entre todos no compromisso comum de construção de um “outro mundo possível”.
É importante observar que, ao completar 20 anos de atividades, o CET abre o debate sobre três questões que marcam a sua existência:

  • Mundo do trabalho nos dias atuais e, aí dentro, a Economia Solidária
  • Cenários e desafios  para os jovens no mundo de hoje
  • Formação política para jovens e educadores nos dias que correm

O aprofundamento desses temas propiciou a discussão visando à atualização da Plataforma.

 

* Informações obtidas no portal das Escolas de Trabalhadores, acessado em junho de 2015, em Oficinas Pedagógicas - CAPINA

 

Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação

Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação

A Ação Educativa OKfoi criada em 1994, como desdobramento do CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação; a publicação A ousadia de superar-se multiplicando-se, feita pelo CEDI em 1994, quando comemorava vinte anos, historia esse desdobramento. Como seção paulista do CEDI, tinha sua sede em São Paulo, no Colégio Sion, e havia herdado da equipe do Rio de Janeiro, nos anos de 1980, o Projeto de Educação Popular. Converteu-o no entanto, no Programa de Educação e Escolarização Popular, procurando atender à demanda por escolas feita pelas Igrejas e pelos movimentos sociais, aos quais prestava assessoria.

A equipe inicial desse projeto, ainda enquanto CEDI, vinha da experiência inovadora do supletivo noturno do Colégio Santa Cruz, ainda nos anos de 1970: Sérgio Haddad (seu coordenador), Vera Masagão Ribeiro, Orlando Joia, Maria Clara Di Pierro, aos quais se agregou Eli Ghanem. Fazia o acompanhamento de escolas comunitárias e a luta dos movimentos sociais por escolas públicas para crianças e para a educação de adultos, sobretudo dos bairros de São Paulo e periferia.

É desse período, ainda enquanto CEDI, a produção do Conjunto Didático Poronga, em conjunto com o Centro de Documentação e Pesquisa da Amazônia, para o Projeto Seringueiro, em Xapuri, no Acre, e do Conjunto Didático Ribeirinho, em colaboração com o MEB – Movimento de Educação de Base, para a região do Rio Tocantis, no Amazonas.

Como fruto da democratização nos anos de 1980, nela compreendida a ativa participação nos debates ocorridos durante a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987/1988, e na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nos anos de 1990, trabalhava-se para que fossem efetivamente garantidos os direitos sociais e humanos dos mais pobres. Mas a luta dos movimentos sociais não se limitava à demanda de escolas; desdobrava-se na democratização da gestão das escolas públicas existentes, contra a cobrança de taxas etc. Cabia ao CEDI, depois à Ação Educativa, prestar assessoria aos movimentos e grupos organizados, assim como apoiar metodologicamente ações de alfabetização e se encarregar da formação de professores e agentes. Para isto, passou a contar com o apoio de Maria Malta Campos, da PUC/SP, e de Marília Sposito, da USP.

Essas ações levaram a Ação Educativa a propor, em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, os Parâmetros Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Em decorrência deles, produziu o conjunto didático Viver e Aprender, compreendendo livros para alfabetização e 1º segmento do ensino fundamental, cuja elaboração foi coordenada por Vera Masagão Ribeiro. Editado inicialmente pelo MEC em 2000, foi distribuído a cursos de jovens e adultos de todo o país. Atualmente, esse conjunto é publicado pela Editora Global, compreendendo também o 2º segmento do ensino fundamental e o ensino médio, sendo possível acessá-lo pela internet no site da editora, para leitura.

Nessa linha de trabalho é profícua a produção de artigos, livros, coletâneas de documentos, textos para oficinas, estudos estatísticos, relatórios técnicos e pesquisas sobre educação, em geral, e educação de jovens e adultos, em particular, como pode ser visto no acervo reproduzido neste documentário. Desdobra-se no intercâmbio com vários outras organizações nacionais e internacionais, sobretudo na Campanha Nacional do Direito à Educação, e na produção do estado do conhecimento sobre Educação de Jovens Adultos, coordenado por Sérgio Haddad, financiado e publicado pelo MEC/INEP 2002.

Uma segunda linha, sobre a problemática da juventude, provocada pelo movimento dos “caras pintadas”, na discussão do impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, na segunda metade de 1992, e demandada pelos estudos de Maria Virgínia Freitas, Helena Abramo, Marília Sposito e Regina Novaes, foi assumida pela Ação Educativa logo após sua criação. Foram produzidos vários informativos sobre o tema: Diálogo da escola com os jovens, Juventude em debate, Juventude em pauta e realizada a pesquisa Juventude, escolarização e poder local, em nove regiões metropolitanas, coordenada por Sérgio Haddad e Marília Sposito. Financiada pelo CNPq, FAPESP e FAPERJ, no período 2003-2006, seus resultados foram reunidos nos livros Novos caminhos em educação de jovens e adultos, organizado por Sérgio Haddad, e Espaços públicos e tempos juvenis, organizado por Marília Sposito. Contando ambos com o subtítulo “um estudo de ações do poder público em cidades e regiões metropolitanas brasileiras”, foram publicados em 2007 pela Editora Global, com financiamento da FAPESP.

Também nessa linha foram produzidos vários estados do conhecimento: sobre Juventude e educação, projeto integrado de pesquisa 1995/2001, coordenado por Marília Sposito e Sérgio Haddad, envolvendo inclusive análise comparativa Brasil e América Latina; Juventude e escolarização (1980-1998), coordenado por Marília Sposito, financiado e publicado pelo MEC/INEP em 2002.

A ênfase nos jovens das periferias e suas expressões culturais deu origem a um Programa de Cultura, que se converteu na terceira linha de trabalho, que passou a abordar também a questão racial. Nela foi produzida a coleção Educação e Questões Raciais, patrocinada por União Europeia, UNICEF e MEC. A partir de 2000, o prédio sede da Ação Educativa, situado na região central de São Paulo, concentrou a reunião de algumas instituições (como a ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) e de algumas iniciativas (como a Campanha pelo Direito à Educação) e converteu-se em “espaço de cultura e formação”, abrigando cursos e manifestações culturais diversas: eventos, hip-hop, gravismo etc. Em algumas ocasiões, funcionou como espaço de esfera pública para reuniões entre sociedade e governo.

A década de 2000, foi o momento da construção das redes, entre elas a RAAAB – Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora do Brasil, o CEAAL – Consejo de Educación Popular de América Latina y el Caribe, a ABONG, e do estabelecimento de fortes relações internacionais, balizadas pela Conferência da UNESCO em Jontiem, em 1990, e a VI Confintea, realizada em Belém do Pará, em 2009. O prédio da Ação Educativa funcionou, e ainda funciona como “centro de convergência” dessas organizações.

Além das publicações impressas e do boletim Informação em Rede (1997-2005), na tradição herdada do CEDI, criado como centro de documentação e informação, a Ação Educativa mantém uma série de boletins, atualmente disponibilizados na internet: Ação – boletim institucional informativo sobre as atividades programadas e desenvolvidas e resultados de pesquisas e projetos; Observatório da Educação – boletim do programa, com notícias, entrevistas, reportagens temas da conjuntura do direito à educação no Brasil; Juventude em Cena – análises, artigos, entrevistas e notícias e reportagens sobre temas da conjuntura do campo dos direitos da juventude; Desafios da Conjuntura, do Observatório da Educação, discutindo de maneira aprofundada a conjuntura das políticas educacionais, dinamizando o debate, dando voz à sociedade civil e visibilidade à diversidade de opiniões; OPA – Obstáculos e Possibilidades de Acesso, boletim do Programa Ação na Justiça, informando sobre o direito à educação pública, gratuita e de qualidade e análises sobre o comportamento do Poder Público frente às demandas por educação e sobre os instrumentos jurídicos destinados à garantia e proteção desse direito; Ação na Mídia – boletim do Observatório da Educação que analisa a cobertura de temas relacionados à educação em mais de 70 jornais e principais revistas do Brasil; Periferia no Centro – boletim mensal do Espaço Cultural Periferia no Centro, com a programação das atividades, complementado pela Agenda Cultura da Perifera, impresso mensal que divulgada atividades que acontecem nos bairros.

A publicação 15 Anos em Ação, divulgada em 1989 e reproduzida neste documentário, fornece uma síntese dos seus programas, publicações e marcos importantes da Ação Educativa, uma das organizações não governamentais brasileiras da área de educação mais bem sucedidas, desenvolvendo suas ações ao longo de 20 anos, sobre o tripé: Educação, Juventude e Cultura. Esse conjunto de atividades, pesquisas e publicações é suportado financeiramente por um elenco de agências internacionais de cooperação, agências multilaterais, órgãos públicos nacionais, institutos e fundações empresariais e organizações da sociedade civil e articulações intersetoriais. O significativo montante de recursos recebidos ao longo dos anos e a diversidade de fontes exigiu a montagem de uma estrutura de gestão administrativo-financeira para atender as diferentes formas de submissão e prestação de contas dos projetos.

15 Anos em Ação Acervo bibliográfico Boletins

 

Informação em Rede

Informação em Rede
Informação em Rede 1997-2005

 

CUT – Central Única dos Trabalhadores

CUT – Central Única dos Trabalhadores

Desde sua criação, em 1983, a CUT investiu na formação política de seus quadros, principalmente em São Paulo. De início contou com a assessoria dos centros de educação popular, entre eles o CEPIS – Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientae, do URPLAN – Instituto de Planejamento Urbano e da FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. Seus representantes participavam também dos seminários promovidos pelo CET – Conselho de Escolas de Trabalhadores, o que garantiu o acesso a prática da educação popular, associada à formação política.

Na segunda metade dos anos de 1980, no entanto, a CUT/SP já havia criado o Setor de Formação Política. No início da década de 1990, motivada pela discussão sobre a importância da educação e da formação profissional para a empregabilidade e o desempenho dos operários no atual fase do capitalismo, marcada por acelerada transformações tecnológicas, assumiu o debate sobre a educação profissional, envolvendo vários setores do movimento sindical. Na segunda metade dessa década, incentivada pela disponibilidade de recursos do PLANFOR – Programa Nacional de Formação Profissional , operado pelo Ministério do Trabalho e Emprego com os recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador , passou a definir o Programa Político-Pedagógico de Educação e Formação Profissional para Trabalhadores.

O primeiro dos programas organizados foi o Integrar, sob a liderança da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, visando à formação para o trabalho com certificação em nível do ensino fundamental e com a geração de alternativas em emprego e renda. Em parceria com a PUC/SP e a Unitrabalho, para os aspectos metodológicos, do DIESSE para os estudos sobre a reestruturação produtiva, e a COPPE/UFRJ, para a produção dos módulos sobre informática, a seção sindical do Rio Grande do Sul produziu alguns textos teórico-metodológicos, publicado em 1998/1999, na série Cadernos de Reflexão, e material didático específico inovador para os 14 módulos dos cursos, dos quais foram reproduzidos neste documentário apenas os disponíveis. A mesma experiência foi replicada em vários outros estados brasileiros, com produções específicas.

Simultaneamente, a Secretaria Nacional de Formação da CUT, em 1998, fixou as Bases do Projeto Político-Pedagógico do Programa de Educação Profissional, assumidas no Programa Integração – Ramo Telemática, implantado na maioria dos estados brasileiros por meio das confederações e federações de 13 ramos produtivos, no período 1999/2002. Esses dois programas envolveram trabalhadores urbanos e rurais, assalariados e desempregados, dos setores formal e informal da economia, tendo por finalidade desenvolver a educação profissional articulada à escolarização básica com terminalidade no ensino fundamental e no ensino médio. Sua matriz curricular rompeu a lógica do ordenamento disciplinar, objetivando propiciar aos educandos um percurso formativo centrado nas relações e inter-relações com a vida concreta dos trabalhadores jovens e adultos, partindo e dialogando com conhecimentos trazidos por estes sujeitos.

A proposta do Programa Integração tomou como eixo fundamental o Trabalho e se desdobrou em quatro áreas: 1. Comunicação, Cultura e Sociedade; 2. Conhecimento e Tecnologia; 3. Sujeito, Natureza e Desenvolvimento; 4. Gestão e Alternativas de Trabalho e Renda. Cada área foi composta por temas de concentração que constituíam uma identidade própria e, ao mesmo tempo, ampliavam as possibilidades de uma abordagem da totalidade, que articulasse o geral e o específico, o global e o local, o simples e o complexo, as categorias e os conceitos, além dos conhecimentos pertinentes a cada ramo produtivo.

Os cursos foram desenvolvidos em 12 módulos para o ensino fundamental, totalizando uma carga horária de 816 horas e, em 15 módulos para o ensino médio, totalizando uma carga horária de 1.030 horas. Para cada módulo foram produzidos Cadernos de Orientação Metodológica e Coletâneas de Textos, para os educadores, e Fichas Geradoras de Debates, para os educandos. Estes módulos são extremamente inovadores, em especial as Fichas para os Alunos que contêm artigos, poemas, letras de músicas, estatísticas etc., adequadas ao nível visado.

Para a efetivação da integração entre os temas abordados, previu-se a unidocência, tendo sido dada atenção especial aos educadores, em termos de formação inicial e de acompanhamento sistemático. Este foi o aspecto mais delicado, tanto no que diz respeito à efetiva permanência e dedicação dos educadores formados, pelas dificuldades habituais de falta de regularidade nos pagamentos e acumulação de tarefas, mas principalmente quanto ao domínio dos temas das áreas humanas e técnicas, pois a formação básica nas universidades é estritamente disciplinar. As atividades formativas do Programa eram desenvolvidas em salas de aula e em espaços comunitários diversos, de acordo com as finalidades de cada ação, a saber: laboratórios pedagógicos, que visavam à ampliação do universo científico-cultural e as oficinas coletivas locais, que buscaram propiciar o debate dos trabalhadores junto à comunidade e ao poder público local visando a potencializar a construção de alternativas de trabalho e renda, com base nos princípios de sustentabilidade e solidariedade.

Além dos documentos de definição do Projeto Político-Pedagógico, elaborados pela CUT, são referências essenciais para o entendimento da proposta cutista, em geral, e do Programa Integração, em particular, o livro Educação integral dos trabalhadores: práticas em construção, organizado por Maristela Miranda Barbara, Rosana Miyashiro e Sandra Regina de Oliveira Garcia, editado pela própria CUT, e o artigo “Programa Integração: avanços e contradições de uma proposta de educação formulada pelos trabalhadores”, de Sonia Maria Rummert, publicado na Revista Brasileira de Educação n. 27, out./dez. 2004, p. 138-153).

A inserção deste material na documentação relativa à educação popular se justifica pelo caráter inovador de sua proposta político-pedagógica e pela excelência de seu material didático. Estas duas características a aproximam de outras experiências implantadas, no mesmo período, a elas acrescentando a importância de tomar a categoria Trabalho como eixo fundante de sua proposta.

   
  Educação integral dos trabalhadores
Maristela Barbara e outras
Programa Integração: avanços e contradições
Sonia Rummert
 

 

Programa Integração

Programa Integração

Módulo 1: Conhecimento & Tecnologia

Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM Coletânea de textos EM Coletânea de textos EF

Módulo 2: Conhecimento & Tecnologia

Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Coletânea de textos EF Caderno de orientação metodológica EM
   
Coletânea de textos EM Caderno do aluno EM    

Módulo 3: Gestão e Alternativas de Trabalho e Renda

 
Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Coletâneas de textos EF  
   
Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM    

Módulo 4: Comunicação, Cultura & Sociedade

Caderno de orientação metodológica EF Coletânea de textos EF Caderno do aluno EF Caderno do aluno EM

Módulo 5: Comunicação, Cultura & Sociedade

 
Caderno de orientação metodológica EF Coletânea de textos EF Caderno de orientação metodolágica EM  
   
Caderno do aluno EM Coletânea de textos EM    

Módulo 6: Gestão e Alternativas de Trabalho e Renda

 
Caderno de orientação metodológica EF Caderno de aluno EF Caderno de orientação metodológica EM  
   
Caderno do aluno EM Coletânea de textos    

Módulo 7: Sujeito, Natureza & Desenvolvimento

 
Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Orientação metodológica EM  
   
Caderno do aluno EM Coletânea de textos    

Módulo 8: Sujeito, Natureza & Desenvolvimento

 
Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Coletânea de textos - EF  
   
Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM    

Módulo 9: Gestão e Alternativas de Trabalho e Renda

Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM

Módulo 10: Conhecimento & Tecnologia

Caderno de orientação metodológica EF Caderno do aluno EF Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM

Módulo 11: Comunicação, Cultura & Sociedade

   
Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM    

Módulo 12: Sujeito, Natureza & Desenvolvimento

   
Caderno de orientação metodológica EM Caderno do aluno EM    

Projeto Político-Pedagógico

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